segunda-feira, julho 31, 2006

Gerrit Dou




















"O Abismo", c. 1630

Acendalhas # 5

2

A minha proposta reduz-se a isto
nem mais um aluno para os liceus
o verdadeiro ensino está na vida
de pá e pica aos moinhos de vento

que sensaboria a História Antiga
com os seus heróis e os seus reis
tanto estudante a fingir que estuda
e faltam braços para o pastoreio

as artes nobres: varrer sachar empar
e outras: bordar coser fazer renda
não tenho nada contra a poesia
mas é mais útil a limpeza a seco

Fernando Assis Pacheco - Desversos

domingo, julho 30, 2006

Jorge de Sena

PARA BELLUM


Protestos, livros, poemas, sacrifícios,
a história analisada e desmascarada: a paz
e não a guerra desde sempre a guerra.
É velho tudo isto. Há malandros
para ganhar com as guerras, há patriotas
para mandar os outros morrer nelas, há
heróis ou não heróis que morrem nelas,
há multidões para serem massacradas.
Eu protesto, tu protestas, ele protesta, etc.
E nada muda, ou muda para mais.
Antigamente, os faraós ao contar os mortos inimigos
(nunca os próprios mortos) exageravam- evidente.
Hoje, os comunicados cometem sempre esse exagero
(e a mesma distracção discreta). Mas há sempre
humanidade com vocação para matar e multidões
com vocação vacum para cadáver.
E neste cheiro a podre milenário - vale a pena
sequer dizer que são filhos da puta?

Grandes Aberturas # 28

Estimados Compatriotas:


Acerca do filho-da-puta, como acerca de muitas outras coisas, correm neste país as mais desvairadas lendas. Há até quem pretenda que o filho-da-puta a bem dizer nunca existiu, dado que ele é apenas um modo de mal-dizer. Nada, porém, mais falso. É certo que o filho-da-puta às vezes não passa de um modo de dizer, mas não bastará a simples existência, particular e pública, de tão variados retratos seus e de tantas estátuas suas, para arrumar com as dúvidas acerca da sua existência real? Pois quem teria imaginação suficiente para inventar tantas e tais variedades de filho-da-puta caso ele não existisse? Não! O filho-da-puta existe. Em todos os lugares, excepto no dicionário. No dicionário existem variados filhos, entre eles o filho-família, o filhastro e o filhote, mas não existe o filho-da-puta. Em compensação, ele, o filho-da-puta, existe em todos os outros lugares.

Alberto Pimenta - Discurso sobre o Filho-da-Puta

Acendalhas # 4

Huid de escenarios, púlpitos, plataformas y pedestales. Nunca perdáis contacto con el suelo; porque sólo así tendréis una idea aproximada de vuestra estatura.

Antonio Machado, Juan de Mairena

sexta-feira, julho 28, 2006

Georges de La Tour




















"The Fortune-Teller", 1632-35

Du Fu

O país em ruínas,
Rios e colinas permanecem.
Cidades na Primavera,
Árvores e flores renascem.

Tempos assim
Tiram lágrimas das flores;
Separado do seu par
Treme o coração da ave.

Os fogos da guerra
Já juntaram três luas.
As novas de casa
Valem agora uma fortuna.

Uma velha cabeça, grisalha,
A cada infortúnio, dilacerada.
E o cabelo que rareia
Já nem o alfinete o segura

Tradução de Gil de Carvalho

Canção Popular (Século XVIII)

Meu marido labuta no campo,
eu não paro na lida da casa.
Um casal tem sempre que fazer,
e que ser unido no trabalho.

O casal camponês tem de zelar pelo amor.
O casal da cidade zela pela sua roupa.
Pode trocar-se um fato velho por um novo.
Não se troca o amor de uma vida inteira.

Eu cozo o arroz e preparo o chá.
Tu mondas, semeias, cavas e ceifas.

Quando como um ovo, deixo-te a gema.
Juntos envelheceremos.


in Claude Roy, A China num Espelho (Tradução de António Ramos Rosa)

John Dryden

After the pangs of a desperate lover,
When day and night I have sighed all in vain,
Ah, what a pleasure it is to discover
In her eyes pity, who causes my pain!

When with unkindness our love at a stand is,
And both have punished ourselves with the pain,
Ah, what a pleasure the touch of her hand is!
Ah, what a pleasure to touch it again!

When the denial comes fainter and fainter,
And her eyes give what her tongue does deny,
Ah, what a trembling I feel when I venture!
Ah, what a trembling does usher my joy!

When, with a sigh, she accords me the blessing,
And her eyes twinkle 'twixt pleasure and pain,
Ah, what a joy 'tis beyond all expressing!
Ah, what a joy to hear 'Shall we again!'

Frank O' Hara

When I was a child
I played by myself in a
corner of the schoolyard
all alone.

I hated dolls and I
hated games, animals were
not friendly and birds
flew away.

If anyone was looking
for me I hid behind a
tree and cried out "I am
an orphan."

And here I am, the
center of all beauty!
writting these poems!
Imagine!

Paul Klee












"Two men meet, each believing the other to be of superior social standing"

terça-feira, julho 25, 2006

Na sociedade da Informação (dizem)

a ignorância não tem desculpa.
Basta saber ler (inglês, no caso) e consentir em perder meia hora.

Defensores do indefensável

Os bombardeamentos israelitas no Líbano suscitaram a condenação formal de todos os países do mundo (excepto três), num coro de protestos que se estende do Vaticano ao Partido Comunista Português.
Mas há sempre meia dúzia de tontos e de lacaios (em geral bem colocados) dispostos a defender o indefensável. Uns porque são avençados de Israel; outros porque são novos e não querem saber, outros porque não gostam de árabes; outros porque nasceram com alma de cão polícia e apoiam sempre os senhores, ou seja, os mais fortes, ou seja, o Poder; outros, enfim, porque não têm defesas (intelectuais) contra a intoxicação da máquina de propaganda sionista.

Tem-se visto, assim, de tudo um pouco:
– O Blogueiro e o Editorialista de Referência dizendo que Israel tem que se defender porque está cercado de inimigos, esquecendo-se de pensar nas razões históricas dessa inimizade e no facto de Israel nunca ter dado um passo (muito pelo contrário) para procurar a conciliação com os tais inimigos.
- As Siamesas Lobotomizadas que cronicam no Público achando que Israel é uma democracia e os judeus um Povo Eleito, cujos direitos históricos sobre a Palestina estão consignados num livro chamado Bíblia (razão suficiente, no seu entender, para conferir ao Tsahal o direito e a obrigação de escravizar e matar as raças inferiores que infestam toda aquela região).
- Um outro blogueiro, que costuma aplicar a sua natural desinteligência num cómico show (off) em tudo digno da antiga revista à portuguesa, a acusar (com o despropósito que normalmente o caracteriza) de anti-semita quem nada censurou aos russos na Chechénia e quer agora protestar contra os desmandos sionistas. Como se não existissem, enfim, maneiras mais simples de não dizer nada.
- E vê-se até um lingrinhas moral a confessar, no DN, a sua preferência pelos escritores judeus, e que uma paixão assim tão potente lhe entrava a verbalização de qualquer crítica a Israel. É sempre bonito, reconfortante e enternecedor ver um jovem manifestar tão fogoso amor pela literatura. Mas conviria também não esquecer que nem só de literatura se fazem as artes; e se este golden boy da opinião fosse mais ecuménico no seu esteticismo, poderia talvez apreciar uma das artes de que fala um dos seus escritores judeus – a da fome; e nessa modalidade, hélas !, não lhe caberia senão reconhecer a superioridade dos palestinianos sobre os israelitas. Mas não. Infelizmente, o rapaz é só livros–livros, e tudo o que contribua para a grandeza das letras judaicas parece-lhe ser sumamente justo e bom. (De tal forma que ninguém duvida que ele seria o primeiro a vitoriar a ocupação hitleriana da Checoslováquia, já que as letras checas … pff.)

Os debitaites mentais destes promotores de si próprios revelam, mais do que ignorância ou cinismo (pois muitos deles vivem precisamente de desinformar), uma profunda falta de imaginação, que é a substância da piedade. Eles não conseguem (não querem) imaginar o que é viver sob um exército de ocupação, viver como um pária dentro da sua cidade transformada em gueto, estar sujeito às arbitrariedades infamantes de uma potência colonizadora; desconhecem o que é sofrer diariamente o medo de que o seu pouco seja transformado em nada, a humilhação de suplicar ao soldado inimigo autorização para atravessar a sua rua. Não querem saber, preferem errar confortavelmente.
Na Alemanha de Hitler seriam o vizinho que desvia a cara quando a família judia do 3º Dto. é levada (ou mesmo o vizinho que se aproxima para perguntar se “posso ficar com o vosso colchãozinho, já que não vão precisar…”, ou até os organizadores das sessões de Cinema Patriótico no Cineclube local). Mas claro que se uma voz lhes chamasse tal coisa em sonhos, acordariam escandalizados – pois se eles próprios costumam usar a palavra “racismo” (tal como “democracia”) como arma quando assaltam os bastiões ideológicos inimigos! Na verdade, todos os conceitos e sentimentos se transformam, nas suas bocas, em palavras (words, words, words), e as palavras num mero flato vocal.
E o racismo é neles uma distraída forma de viver, e o egoísmo mais serôdio comanda os seus passos; e foram instruídos pelo manual A Educação do Porco, de onde lhes adveio a ciência de abrir e fechar o coração de acordo com o gosto e a melhor conveniência; e sabem, enfim, ser felizes dentro dos seus fatos “cor de tubarão” (J. C. Oates).
Resta-nos desejar que as suas cozinhas Miele nunca sejam bombardeadas, que as suas bibliotecas de livros raros nunca cheguem a conhecer o poder das bombas incendiárias, que a sua pele de cera continue para sempre na ignorância dos efeitos de uma bomba de fósforo. “Que nunca tenham”, como diz o poeta, “o coração de cinza”.

sexta-feira, julho 21, 2006

Aulas de Formação Cívica e Moral em Israel































Photo caption: Israeli girls write messages on a shell at a heavy artillery position near Kiryat Shmona, in northern Israel, next to the Lebanese border, Monday, July 17, 2006.(AP Photo/Sebastian Scheiner)

(Retirado daqui)

terça-feira, julho 18, 2006

Francis Picabia

segunda-feira, julho 17, 2006

HIT-PARADE

Supplique pour être Enterré à la Plage de Sète – Georges Brassens
The Carny – Nick Cave & The Bad seeds
This is the Day – The The
The Train – Tuxedomoon
Ballad of the Man – Virgin Prunes
Strangers in the Night _ Frank Sinatra
The Black Angel’s Death Song – The Velvet Underground
Evening World Holiday Show – The Band of Holy Joy
Stephen Song – The Fall
Split – Ute Lemper
Autumn in New York – Billie Holiday
In Between Days – The Cure
Lions – Tones on Tail
Smoke gets in Your Eyes – Brian Ferry
Quisiera amarte menos – Chavela Vargas
Spirit – Bauhaus
Pleasure and Pain – The Chameleons
Funeral de um Lavrador – Chico Buarque
This Land – Steven Brown
Life on Mars – David Bowie
Yesterday is Here - Tom Waits
Complicated Game – XTC
Mrs. Tyler – Pop Dell ‘Arte
Dawna – Morphine
Master Song – Leonard Cohen
As Long as That – Go Betweens
Wise Up – Aimee Man
Avec les Temps – Leo Ferré
Com que Voz – Amália Rodrigues
Lost Weekend - Loyd Cole

sábado, julho 15, 2006

Nos 110 anos do nascimento de Durruti

Dez boas razões para se dizer anarquista


1. O anarquismo é a única ideologia genuinamente libertária. Quem quer que considere que a liberdade é o mais alto valor político, não pode senão escolher o anarquismo. Só o anarquismo garante 100% de eficácia em termos de liberdade, tudo o resto são engodos e paliativos.
2. É muito mais poético e gratificante estar do lado dos vencidos da História do que pertencer à horda dos vencedores. Os vencedores cheiram a sangue e a intriga, já que se alimentam sobretudo de carne, mesmo quando se querem macrobióticos.
3. Dizendo-se anarquista, uma pessoa tem uma óptima desculpa para não perder tempo com actos eleitorais,
4. e uma excelente justificação para ser pobre.
5. O anarquismo é a única ideologia que defende os direitos e as liberdades do indivíduo contra os do grupo (sem contudo negar que a sociedade exista, como o pretendem os neo-liberais);
6. e o lazer contra o trabalho; a frugalidade contra a miséria; a ética contra a economia; a vida, enfim, contra o consumo da vida.
7. Análises efectuadas em laboratórios aragoneses demonstraram que o messianismo anarquista é muito mais justo, credível e inteligente do que os da concorrência (cristianismo ou leninismo, por exemplo); e se a sua implantação no mercado é hoje ínfima, isso deve-se apenas à bombástica mas desastrada campanha de marketing com que o produto foi lançado (em finais do século XIX) e a certas manobras soezes das multinacionais concorrentes.
8. O anarquismo concede (gratuitamente) ao seu simpatizante ou filiado a integração numa vasta e romântica tradição de boas causas (ecologia, pacifismo, anti-racismo, anti-homofobia, feminismo, anti-capitalismo, you name it), proporcionando-lhe com isso a sensação (reconfortante ou deprimente, conforme a pessoa) de estar na vanguarda do espírito.
9. Se compararmos os simpatizantes do anarquismo (E. Jünger, S. Weill, S. Dagerman, C. Rochefort, por exemplo) com os dos seus adversários políticos (de Neruda-Aragon a Popper-Pound, por exemplo) facilmente verificamos que os primeiros são não apenas mais altos, mas também mais talentosos; donde se conclui que o anarquismo favorece ambas as qualidades,
10. e que ser anarquista é muito mais cool do que ser outra coisa qualquer (excepto, talvez, um budista no Alaska).

A. M. Pires Cabral

CONFESSO QUE VOEI


1.

Mas, se nestas seis décadas e meia
eu fui capaz de algum voo

- concedo: semelhante ao das galinhas,
isto é rudimentar, desgracioso,
com muitíssimo dispêndio de energia
para pouca ascensão, breve e apenas
em desespero de causa;
em todo o caso uma forma de voo
pelo qual me sustentei no ar
em horas de menos peso -

devo agora, fechado o ciclo do voo,
como os pássaros pousar.

E isto não é como uma loja
que muda de ramo
ou que em fins de Dezembro
fecha para balanço.
Nem como executar
um mandado de detença.
Nem expiar a desordem
de, sendo pedestre, ter voado.
Nem um remate compulsivo
à sedição.

Pousar, é tudo. Regressar
ao afago das coisas da terra.
A terra cobrar por fim o que lhe devo
e eu cobrar dela o que me deve
desde a primeira hora.

Voei, está voado.
Nada de nostalgias.


In Telhados de Vidro Nº6

quinta-feira, julho 13, 2006

Israel, assim, não vai lá.

Os dirigentes da democracia militar israelita continuam a patinhar num pântano de indefinições estratégicas, que ainda acabará por terminar naquilo que eles menos desejam: um estado palestiniano independente. Não é com hesitações e paninhos quentes que se conquistará o “lebensraum” da Grande Israel. De facto, está mais do que visto que esta política de cerco, de sufocação económica e de humilhação quotidiana que Israel leva a cabo nos Territórios Ocupados (ou Desocupados) não traz grandes resultados em termos de solucionar o problema palestiniano. Pelo contrário, só estimula a resistência e a revolta. Ora, no desenvolvimento de uma nação imperialista, chega inevitavelmente o dia em que é necessário optar por medidas extremas e cruéis. Medidas difíceis e dolorosas, é certo, mas quem tem a história, Deus e a imprensa mundial do seu lado, tem mais do que o suficiente para não temer dar o grande passo que falta, e encarar de frente a inevitabilidade de uma solução radical, uma solução final para esta questão. Em função de todos estes desígnios políticos, militares e divinos, não se percebe muito bem o que impede os dirigentes (e os dirigidos) israelitas de serem mais metódicos e eficazes na erradicação do problema; o que os impede, enfim, de deportar todos os palestinianos para fora da Grande Israel ou, no caso de isso ser demasiado dispendioso, de os gazear nos campos de concentração de Gaza e da Cisjordânia.

segunda-feira, julho 03, 2006

Andrés Trapiello

Yo creo que un buen ideal es llegar a ser bueno sin dejar de ser inteligente, o sea, sin dejar de ser un poco malvado.

*

Resultaba patético aquel hombre hipocondríaco, convencido de que su muerte habría de sobrevenirle por tumores intestinales. Cada día examinaba sus heces, en las que no encontraba nada anormal. Se estaba larvando en él la angina fatal, que se lo llevaría por delante antes de cumplir los treinta y ocho, y el hombre era feliz, cada mañana, examinando el buen color de sus deposiciones.

*

Casi siempre un hombre muestra su corazón al elegir a sus amigos, en cambio sólo se ve su inteligencia cuando elige a sus enemigos.

*

Observar con detenimiento a esos tipos que en los conciertos se adelantan unos segundos a todos los demás en aplaudir, no tanto movidos por el entusiasmo, como para dejarle claro al auditorio que ellos conocían a la perfección la pieza y que tal silencio era final y no pausa entre movimientos. Estudiarlos bien, mirar a esas mujeres y esos hombres en la cara. Son los mismos que en colegio estaban todo el día con el brazo levantado, las mismas que llevaban el breviario a la monja, los mismos que en la mili le hacían la pelota al sargento, los mismos que en un momento determinado irían a la policía a delatarte, ellos, tan melómanos, tan sensibles.

*

Pocas cosas habrá mas deprimentes que ver a un viejo comiéndose las uñas. (He visto uno así en Recoletos.)

*

Por qué Cristo, que relató tantas parábolas, no contó ningún chiste? De las religiones y de los hombres sin sentido del humor habría que desconfiar siempre. El primer paso es estar triste; ele segundo, amargarle la vida al prójimo.



(Fontes: Los Caballeros del Punto Fijo, Las Cosas Más Extrañas, Las Nubes por Dentro)

Degas

James Tate

TEACHING THE APE TO WRITE


They didn't have much trouble
teaching the ape to write poems:
first they strapped him into the chair
then tied his pencil around his hand
(the paper had already been nailed down).
Then Dr. Bluespire leaned over his shoulder
and whispered into his ear:
"You look like a god sitting there.
Why don't you try writing something?"

Jacques Prévert

BAIRRO LIVRE



Meti o bivaque na gaiola
e saí com um pássaro na cabeça
Então não se faz a continência
perguntou o comandante
Não
não se faz a continência
respondeu o pássaro
Ah bom
desculpe julgava que se fazia a continência
disse o comandante
Ora essa toda a gente se pode enganar
disse o pássaro


Tradução de Eugénio de Andrade