Ya todo se compreende
42% dos leitores do Público “Concordam com uma eventual união entre Portugal e Espanha”. Já sabíamos que uma das coisas que melhor define um português é a sua vergonha de ser português, mas estes resultados não deixam de ser espantosos.
E talvez o problema de Portugal resida precisamente nisso, no facto de os portugueses não desejarem ser portugueses, desejarem ser outra coisa qualquer. Quem não quer ser aquilo que pode ser, está condenado à imitação do ser dos outros, ou à inveja do ser dos outros; resta-lhe, enfim, ser menos do que podia ser. E é isso que Portugal tem sido desde há muito, algo menos do que podia. A proverbial timidez dos portugueses é a insegurança de quem nunca se soube aceitar, de quem sempre desejou ser outro. Não gostamos de nós, somos como aqueles adolescentes Kurtcobaineanos que "se odeiam e querem morrer".
E somos pior do que isso, somos aqueles que estão sempre à espera de ser salvos por algo ou alguém exterior a si; sempre à espera de providenciais golpes da fortuna, de qualquer lance de eléctrica sorte que infunda uma nova centelha de vida nas nossas almas apagaditas. Não admira que sejamos os melhores clientes do TotoMilhões. Somos tristes e patéticos.
Com tanto desamor por si próprios, não admira, também, que o pior défice nacional seja o de cidadania: os portugueses não se sentem ligados a isto, não nutrem qualquer sentimento de comunidade, não sentem que Portugal é eles próprios. E por isso fogem alegremente aos impostos, cagam tudo à sua volta, cospem para o chão o lixo que trazem dentro, não se doem do património deteriorado, da paisagem vandalizada pelos construtores civis, das florestas em chamas, da desertificação do interior. Na verdade, parecem tomados de uma pulsão suicida. Basta ver como a sua frustração quotidiana encontra ao volante o único escape consentido: se os portugueses aceleram insultos por essas estradas fora, é para pouparem dinheiro em psicoterapeutas. O seu desejo mais veemente é o de destruir a pátria onde se sentem mal.
Mas a culpa não é inteiramente sua; pois quem pode amar uma pátria onde, tradicionalmente, as oportunidades só existem para os “cunhados”; uma pátria incapaz de proporcionar a grande parte dos seus cidadãos condições de vida dignas, condenando-os à emigração; uma pátria onde a justiça está bloqueada; onde a liberdade sempre foi a liberdade de se conformar com o status quo ; onde as elites são do mais chulo que existe; uma pátria onde a classe política exibe uma estupidez, incompetência e corrupção endémicas; uma pátria onde etc., etc. etc.?
E talvez o problema de Portugal resida precisamente nisso, no facto de os portugueses não desejarem ser portugueses, desejarem ser outra coisa qualquer. Quem não quer ser aquilo que pode ser, está condenado à imitação do ser dos outros, ou à inveja do ser dos outros; resta-lhe, enfim, ser menos do que podia ser. E é isso que Portugal tem sido desde há muito, algo menos do que podia. A proverbial timidez dos portugueses é a insegurança de quem nunca se soube aceitar, de quem sempre desejou ser outro. Não gostamos de nós, somos como aqueles adolescentes Kurtcobaineanos que "se odeiam e querem morrer".
E somos pior do que isso, somos aqueles que estão sempre à espera de ser salvos por algo ou alguém exterior a si; sempre à espera de providenciais golpes da fortuna, de qualquer lance de eléctrica sorte que infunda uma nova centelha de vida nas nossas almas apagaditas. Não admira que sejamos os melhores clientes do TotoMilhões. Somos tristes e patéticos.
Com tanto desamor por si próprios, não admira, também, que o pior défice nacional seja o de cidadania: os portugueses não se sentem ligados a isto, não nutrem qualquer sentimento de comunidade, não sentem que Portugal é eles próprios. E por isso fogem alegremente aos impostos, cagam tudo à sua volta, cospem para o chão o lixo que trazem dentro, não se doem do património deteriorado, da paisagem vandalizada pelos construtores civis, das florestas em chamas, da desertificação do interior. Na verdade, parecem tomados de uma pulsão suicida. Basta ver como a sua frustração quotidiana encontra ao volante o único escape consentido: se os portugueses aceleram insultos por essas estradas fora, é para pouparem dinheiro em psicoterapeutas. O seu desejo mais veemente é o de destruir a pátria onde se sentem mal.
Mas a culpa não é inteiramente sua; pois quem pode amar uma pátria onde, tradicionalmente, as oportunidades só existem para os “cunhados”; uma pátria incapaz de proporcionar a grande parte dos seus cidadãos condições de vida dignas, condenando-os à emigração; uma pátria onde a justiça está bloqueada; onde a liberdade sempre foi a liberdade de se conformar com o status quo ; onde as elites são do mais chulo que existe; uma pátria onde a classe política exibe uma estupidez, incompetência e corrupção endémicas; uma pátria onde etc., etc. etc.?
8 Comments:
Culpa, ai está uma palavra terrivel. Mas se a responsabilidade não é nossa, é de quem? E no que se traduz essa responsabilidade? Segundo a tua visão quanto mais capitalista pior, pelo que se não podemos seguir esta (Ocidental) democracia podre e seus protagonistas maiores, diz-nos para onde, diz-nos o caminho...
É mesmo isso. Como comunidade, como indivíduos, parecemos incapazes de mudar a nossa condição.
É como se vivessemos num país alugado: escarramos, destruímos, dizemos mal, não sentimos pertença. Somos pequenos. Estamos mal situados. Ninguém gosta de nós. Não temos petróleo. Mas temos vinho, porra. Alguém bebe petróleo?
E sim, somos menores: precisamos de um pai: alguém como o velho adunco de Santa Comba, que nos ensine as continhas e o respeitinho, quando o pão é escasso; nos dias megalómanos até uma criança serve se prometer o quinto império.
Eu acho que estamos no bom caminho. Como diria o outro, qualquer país que não dê provas da sua própria refutação não se pode considerar credível.
É o "direito ao feriado", pá.
As considerações tecidas relativamente a Portugal podem ser transpostas para inúmeros outros países, não são exclusivo nacional.
E Portugal não é inviável ou se encontra em fase terminal ligado à máquina. Já cá anda vai para novecentos anos. Nenhuma falência dura tanto.
Sucede porém que existe um problema cultural ligado à ética católica e que foi agravado pelo Estado Novo, mas que vem muito detrás.
É a mania do "só neste país".
Quem veio das antigas colónia deu-se conta deste facto.
Antes do 25 de Abril, em África, quando alguma coisa não ia de feição dizia-se "Só aqui! Isto na Metrópole não acontecia". Quando cá chegaram deram-se conta que na Metrópole também acontecia.
Este síndroma do "Só Neste País" acontece àqueles que, coitados, nunca tiveram oportunidade de viver noutro país. É que lá, também acontece, não é "Só Neste País".
Portanto, Divina Luz da Sabedoria, não estamos tão mal assim. Há é uns quantos energúmenos que deviam ser "recauchutados". Mas em Portugal já não existem as placas "REZERVADO O DIREITO DE ADMIÇOM" como havia naquele estabelecimento onde, há alguns lustros, aviámos muitas receitas.
Temos que ficar com quem nasce e com quem cá aparece, pá.
Até já há quem faça contas ao valor de Portugal por m2. Talvez não queiram é vender os portugueses, para não desvalorizar o território.
A sobrevivência não é propriamente o meu ideal de vida. Talvez seja preferível a estar morto, mas para ideal falta-lhe qualquer coisa. Portugal sobrevive vai para 900 anos? Óptimo. Mas isso não signfica que devamos abrir já 900 garrafas de champanhe. A Etiópia sobrevive há mais tempo do que isso, e depois? Só um tonto consegue achar orgulho no facto de ter chegado aos 100 anos.
Claro que a incompetência não é um exclusivo nacional. Mas isso não nos proporciona grande consolo, saber que há muitos países atrás. ´Tens o hábito de te comparar com os piores? Não creio. A gente compara-se com os do nosso campeonato? E no campeonato europeu, Portugal avança a todo o gás para a última posição entre os 25. Ah! Mas continuaremos sempre à frente da Albânia e da Moldávia! dirás tu, num lampejo de euforia. Pois...
Além disso, a política de piedoso silêncio acerca das nossas misérias, que tu pareces defender, é a melhor maneira de não avançar. É da auto-crítica que nasce o progresso civilizacional. Se não nos queixamos daquilo que existe (só porque noutros lados é tudo pior) nunca sairemos daquele atoleiro de branda ignorância e imobilismo que foi a política de Salazar. Enquanto houver pior que nós, tá tudo bem. É isso que defendes, caro?
Não, não, não...
Expliquei-me mal, concerteza.
Concordo contigo como sabes. Só podemos progredir se fizermos o benchmarking por cima, e não por baixo, como é evidente.
Agora acho que não devemos quedarmo-nos pela lamúria inconsequente e pelo choradinho piegas dos coitadinhos do costume.
É claro que devemos criticar o que está mal e louvar o que está bem, mesmo que seja pouco. Por isso é que dizes que a incompetência não é exclusivo nacional. Sucede, porém, que, muitas vezes, sob a capa da crítica se esconde a defesa do privilégio corporativo e pessoal.
A manutenção do direito à incompetência dos cultores do subsídio. Essa corja de chapéu na mão que, debaixo a coberto de argumentos estafados que o mercado não adere à porcaria que eles fazem se arrogam no direito de exigir (!) do Estado o subs.., o apoio para o estrume que fazem.
E eu a pagar...
Pois,às vezes apetece dizer com Almada:
«Se Fulano, Beltrano,(e são tantos...) etc. é português, eu quero ser espanhol!»
Enviar um comentário
<< Home