sexta-feira, abril 20, 2007

Mais do Mesmo

Aqui

terça-feira, março 13, 2007

SO GOODNIGHT

"Citações e Comentários" se deveria ter chamado este blogue, pois outra coisa não foi. Em todo o caso, termina aqui. Obrigado a todos. Deixo-vos com um emblema de Nemésio, e honni soit qui mal y pense:


MESA DE CAFÉ

Amigos e cerveja é a minha tarde.
A noite alinha-me os ossos.
Não fica, de tudo o que arde,
Mais do que uns tantos destroços.

Alguém pintaria a mesa:
Eu prefiro levantar-me.
A minha vida está presa
A outra espécie de charme.

sábado, março 10, 2007

Miguel d' Ors

Nostalgias Amazónicas


Quien fuera un yanomani:
desnudo e incocente, viviría
fuera de calendarios y mentiras,
en paz con los vecinos y las lluvias,
los dioses y mi cuerpo. Mis únicas costumbres
serían los espesos follajes goteantes
trespasados por cantos de colores vivísimos
rápidos como flechas.
No envidiaría, no consumiría,
nadie me robaría. En una estera
tejida con cortezas
fecundaría a mi fiel india bajo
la mirada propícia de los astros.

Pero - nada es perfecto - ninguna de esas cosas
tendría para mí el menor atractivo.


*********


Calendario Perpétuo


El lunes es el nombre de la lluvia
cuando la vida viene tan malintencionada
que parece la vida.

El martes es que lejos pasan trenes
en los que nunca vamos.

El miércoles es jueves, viernes, nada.

El sábado promete, el domingo no cumple
y aquí llega otra vez - o ni siquíera otra:
la misma vez - la lluvia de los lunes.

sexta-feira, março 09, 2007

Notícias da Frente Bibliotecária

Há quem não se incomode com isso, mas a mim irrita-me guardar livros maus ou inúteis. É como se não merecessem o espaço que ocupam, tenho-lhes quase rancor por me terem enganado com os seus nomes promissores e títulos sonantes. É-me difícil, por exemplo, não levar a mão ao nariz sempre que passo pelo obeso volume da "Rosa do Mundo", editada há uns anos pela Assírio. Uma verdadeira enciclopédia da ignorância verbal, diga-se de passagem. Oito contos, se bem me lembro, que mais valia ter dado ao primeiro arrumador que visse. A essa Rosa, só não a deitei fora por causa dos gregos traduzidos por M.H.R.P. e por meia dúzia de outros mais. Mas os demasiados livros que se acumulam numa casa: os tantos, os feios, os tontos, os zeppelinianos, os rés-do-estilo, os rés-do-estalo, os assim-assim, os engraçadinhos e os chatos (já para não falar nos idiotas e nos da puta, que também os há), a esses cada vez os suporto menos. Este nobel ensaista russamericano, por exemplo, é entrevistado ao longo de 440 pág. e só lhe ouvimos um blá-blá misticóide que não aquece (nem arrefece) meia salsicha. Não é irritante ter um livro destes em casa? É. Não apetece pô-lo na rua? Claro. E como tal centenas de outros.
Antigamente era mais cuidadoso com as limpezas, e volta e meia lá iam dois sacos para o alfarrabista (uma vera sacanice, diga-se a verdade - só desculpável pela necessidade - pois apesar de vender por cinco o que me custara 25, sempre me pareceu desonesto destinar o lixo a outra coisa que não o respectivo caixote); mas nos últimos anos tenho deixado acumular; e esses acumulados, mais os que vão caindo no abismo dos dispensáveis ( às dúzias por ano, uma carnificina) começam a fazer-se demasiado grossos nas estantes. Como é possível ter-se em casa três livros (3!!) de um caga-tacos manhoso e jesuítico chamado Léon Bloy? Que vergonha. Ou 12 livros de Pascoaes. Doze. 4 livros de Holderlin será pouco, mas para mim são 4 livros de Holderlin a mais. Uma das minhas cenas preferidas de D. Quixote é aquela em que alguém escrutina a sua biblioteca e atira metade pela janela. Que sentido de higiene. Agrada-me isso: reduzir tudo ao indispensável. Atirar fora o que apenas serve para fazer peso. Gostava de ter cada vez menos livros, em vez de mais, mas melhores. Precisar de poucas coisas. E assim com tudo.

quarta-feira, março 07, 2007

Jean Baudrillard



"Ce qui caractérise la societé de consommation c'est l'universalité du fait divers dans la communication de masse. Toute l' information politique, historique, culturelle est reçue sous la même forme, à la fois anodine et miraculeuse, du fait fivers. Elle est toute entiére actualisée, c'est à dire dramatisé sur le mode spectaculaire - et toute entiére inactualisée, c'est à dire distancée par le medium de la communication et réduite à des signes. Le fait divers n'est donc pas une catégorie parmi d'autres mais LA catégorie cardinale de notre pensée magique, de notre mythologie. [...] La quotidienneté comme clôture serait insupportable sans le simulacre du monde, san l'alibi d'une participation au monde. [...] A ce niveau "vécu", la consommation fait de l'exclusion maximal e du monde (réel, social, historique) l'indice maximale de securité. Elle vise à ce bonheur par défaut qu'est la resolution de tensions." Etc.

La Société de Consommation, Gallimard, 1970

terça-feira, março 06, 2007

"The Price of Art"

"Information preserved about the lives of the Dutch painters is sparse. They belong to that species of artists who leave works behind them, not complaints and laments. Really there are no dramatic stories, unhealthy blushing, or sensational scandals. Their entirely earthly existence can be summarized in a few dates: birth, qualifications as a master, marriage, children’s baptism, and finally death.
They can only be envied. Whatever their greatness and miseries, the disillusionments and failures of their careers, their role in society and place on earth were not questioned, their profession universally recognized and as evident as the profession of butcher, tailor or baker. The question why art exists did not occur to anyone, because a world without paintings was simply inconceivable.
It is we who are poor, very poor. A major part of contemporary art declares itself on the side of chaos, gesticulates in a void, or tells the story of its own barren soul.
The old masters – all of them without exception – could repeat after Racine, “We work to please the public” Which means they believed in the purposefulness of their work and the possibility of interhuman communication. They affirmed visible reality with an inspired scrupulousness and childish seriousness, as if the order of the world and the revolution of the stars, the permanence of the firmament, depended on it."

Zbigniew Herbert, Still Life with a Bridle
(Translated by John and Bogdana Carpenter)

Avercamp, Avercamp, traze as tintas.
















Avercamp, Avercamp traze as tintas
E pinta o nosso outeiro, ainda que mintas!

Esboça o ar da noite em fresco linho,
Íntimo a alguma carne truculenta,
E derrama o veludo como um vinho
Na trémula de amor.
Pinta-a, Avercamp, seja como for!

Traz a caixa, Jan Steen, e a tinta ardente,
Pinta o nosso interior inexistente!

Uns vizinhos vieram para a boda
Com cabaços de grés esvaziados:
Nossa Senhora faça da água toda
Da Holanda
Satisfeitos os nossos convidados!
Pinta, Jan Steen, pinta estas coisas, anda!

E não esqueça, na orgia imaginosa
Da casinha do dique já tombada,
A velhota do folho cor-de-rosa,
Avó da pura noiva imaginada.

Nem os grossos burgueses de sombrero,
Com bofes naturais, que não de goma,
E o mundo saiba em tinta que só quero
Ser feliz, tão feliz quanto se coma.

Mas sobretudo, oh Mestre, ao canal rente
Não caia o noivo, tonto de poesia:
O noivo

Que eu não sei se é menino, se é borracho,
Pombo ou bêbado à força de alegria:
Em todo o caso, bêbado como um cacho!

Desprendido insensato do aparente,
O que na vida perco, em tinta o acho.

Vitorino Nemésio

Gerrit Kouwenaar

TEM AINDA UMA PESSOA


Tem ainda uma pessoa de contar os seus verões, de lavrar
ainda a sua sentença, tem de nevar-se ainda o próprio Inverno

tem ainda de fazer compras antes que a escuridão
pergunte o caminho, velas pretas para usar na cave

tem de infundir coragem aos filhos, tomar a medida
às filhas para um arnês, ensinar a água gelada a ferver

tem ainda de apontar ao fotógrafo o charco de sangue
desabituar-se da casa, mudar a fita à máquina de escrever

tem ainda de abrir a cova para uma borboleta
de trocar o instante pelo relógio do pai.

(Tradução de Fernando Venâncio)

Abraham van Beyeren


"Mar Bravo"
"Whether fact or fantasy, the premise on wich the drowning cell was dreamed up was that survival in the teeth of calamity was the beginning of self-respect: a recovery of identity. To its first generation of patriotic eulogists, Dutchness was often equated with the transformation, under divine guidance, of catastrophe into good fortune, infirmity into strenght, water into dry land, mud into gold. This arrogation of a special destiny, marked by suffering and redemption, was not so particular to de Dutch as they imagined. But the uncanny ways in wich geography reinforced moral analogy gave their collective self-recognition great immediacy. Those who had come through flood and had survived could hardly miss the differentiating significance of beproeving, or ordeal. So the trial of faith by adversity was a formativ element of the national culture. "
Simon Schama, The Embarrassment of Riches - An Interpretation of Dutch Culture in the Golden Age.

Jan Steen



"Mal de amor", c. 1660

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Ingmar Bergman - "Morangos Silvestres"