quinta-feira, março 09, 2006

LUZ FRIA # 2

"O Poder, de facto, já não é clerical-fascista, já não é repressivo. Já não podemos empregar contra ele os argumentos a que estávamos habituados e quase afeiçoados [. . .] O Poder da nova sociedade de consumo permissiva serviu-se precisamente das nossas conquistas mentais de laicos, de iluministas, de racionalistas, para construir a sua estrutura de falso laicismo, de falso iluminismo, de falso racionalismo. Serviu-se das nossas dessacralizações para se libertar de um passado que, com as suas sacralizaçoes atrozes, já lhe não era útil.
Mas em compensação esse novo Poder desenvolveu até ao limite máximo a sua única sacralização possível: a sacralização do consumo como rito e, naturalmente, da mercadoria como fetiche. Já nada se opõe a isso. O novo Poder já não tem nenhum interesse, nem necessidade de mascarar, com Religiões, Ideais e coisas do género, aquilo que Marx tinha desmascarado."

Pier Paolo Pasolini - Escritos Póstumos (Tradução de Helena Ramos)

3 Comments:

Blogger hfm said...

Gostei de ler.

sexta-feira, março 10, 2006 11:34:00 da manhã  
Blogger cbs said...

bem visto.
Mas o poder é o mesmo de sempre; e tem uma necessidade vital nova: seduzir.

sexta-feira, março 10, 2006 12:12:00 da tarde  
Blogger JMS said...

Além de ser o poeta e o cineasta que se sabe, Pasolini tinha uma virtude que é muito mais rara do que se julga: pensava pela sua própria cabeça, tinha ideias próprias e um gosto inato por desafiar os consensos. Era um pensador único, alheio a todas as cartilhas, um polemista solitário. O facto de ter sido detestado tanto pela esquerda como pela direita, tanto pelos católicos como pelos comunistas, mostra bem a sua singularidade.

sexta-feira, março 10, 2006 2:07:00 da tarde  

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