segunda-feira, junho 12, 2006

Grandes Aberturas # 27

Leio só livros usados
Encosto-os ao cestinho do pão, mudo a página com um dedo e ela fica quieta. Assim mastigo e leio.
Os livros novos são impertinentes, as folhas não ficam quietas quando as passamos, resistem e temos de carregar para que fiquem em baixo. Os livros usados têm as costas frouxas, as páginas vão-se lendo sem voltarem a erguer-se.
Por isso na tasca ao meio-dia sento-me na cadeira do costume, peço uma sopa e vinho e leio.
São romances de mar, de aventuras na montanha, nada de histórias de cidade, que já as tenho à minha volta.
Levanto os olhos para um pouco de sol que se reflecte no vidro da porta da entrada, por onde entram os dois, ela com ar de vento pelas costas, ele com ar de cinzas.

Erri de Luca - Três Cavalos (Tradução de José Lima)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Acho deliciosa a forma como este autor se refere aos livros usados. Durante muito tempo comprei livros em alfarrabistas e estou em consonância total com o texto. Obrigada pela sujestão de leitura.

terça-feira, junho 13, 2006 5:42:00 da tarde  

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