sábado, setembro 02, 2006

Grandes Aberturas # 31

Porquê escrever estas páginas? Para que servem? - Que sei eu? Na minha opiniáo, é estúpido perguntar-se aos homens o motivo das suas acçoes e dos seus escritos. - E vós, sabereis por acaso porque abristes as miseráveis páginas que a mão de um louco vai traçar?
Um louco! um louco aterroriza. O que é você, você, leitor? Em que categoria te incluis? na dos idiotas ou na dos loucos? - Se te dessem a escolher, a tua vaidade prefereria a última condição. Sim, mais uma vez, para que serve, pergunto-o de verdade, um livro que não é nem instrutivo, nem divertido, nem químico, nem filosófico, nem agrícola, nem elegíaco, um livro que não dá qualquer receita para os carneiros ou para as pulgas, que não fala dos caminhos-de-ferro, nem da Bolsa, nem dos recônditos do coração humano, nem dos trajes da Idade Média nem de Deus nem do Diabo, mas que fala de um louco, isto é, do mundo, esse grande idiota que gira há tantos séculos no espaço sem dar um passo, e que uiva, espuma e se dilacera?

Gustave Flaubert, Novembro - Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo

1 Comments:

Blogger Lúcia Rodrigues said...

"-E «vós», sabereis...;
"O que é «você», «você», leitor?
Em que categoria «te» incluis?"

Vai aproximando, cercando?

",...sabereis por acaso porque «abristes» as miseráveis páginas que a mão de um louco «vai» traçar?"

Abriremos páginas que a mão de um louco ainda não traçou?
Se não, o louco...?

Flaubert ou tradução?...

Ok.
Perdoem as loucuras de uma idiota e/ou as idiotices de uma louca...

segunda-feira, setembro 04, 2006 1:31:00 da manhã  

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