quinta-feira, janeiro 04, 2007

Joaquim Manuel Magalhães

O bronze da neve na primeira luz
corta nos teus dedos gretas de cieiro.
Deixemo-nos de imagens: não há sítios
sequer onde fugir à noite
do roupão da mãe, do ronco do pai,
ou pior do que isso. Não há
futuro senão numa fábrica,
num banco, numa escola de arredor.
Ou nem isso. Emprego aqui por poucos dias,
biscate além, uns escudos num qualquer engate.
Acabar na província. Com desejos
ocultados, copos de vinho, ervas
e começar a ter vinte anos
e não haver nada, nem uma cantiga.