sexta-feira, abril 28, 2006

Carlos Poças Falcão

ROGO ESCUTADO A UM CORAÇÃO


Não faças de mim um despreocupado
os meus irmãos trabalham nas produções ruidosas
mas eu tenho de ir aos mortos e aos esquecimentos
a mostrar a árvore o ramo e o raminho
onde despontou primeiro a primavera.

No silêncio e na esperança repousa a minha vida
que eu não seja um distraído mesmo que a festa ao longe
me chame toda a noite. Como louvarei
o sono e o despertar, os primeiros cantos e as últimas estrelas?
Tenho tanto que fazer - contemplar a árvore o ramo e o raminho
onde despontou primeiro a primavera
governar velhas nações desavindas no meu peito
deixar comida limpa aos animais da rua.

Não me deixes ser um despreocupado
os meus irmãos saíram para trabalhar em terra estranha
sou que tenho agora de amar os horizontes
fazer visitaçoes, traçar as Tuas marcas que salvam nas soleiras.

Não há hora de descanso para as minhas vigilâncias
deito-me e levanto-me nos turnos do temor.
Quem há-de pôr grinaldas nos círculos do fogo?
Quem há-de levar água à boca dos sedentos?
Não permitas que eu seja um despreocupado
correspondo a rostos pobres, entrego-me aos olhares
e só assim distingo, espelho e anuncio.
Grandes coisas se preparam mas os meus irmãos não vêem.
Agora tenho de ir a guardar as orações
a recordar a árvore o ramo e o raminho
onde despontou primeiro a primavera.