segunda-feira, abril 17, 2006

Jürgen Theobaldy

BOLO DE QUEIJO E NATAS



Depois ela empurrou
o prato para o lado
voltou-se para mim e disse
que sempre quis
fazer qualquer coisa de grande
de extraordinário
de dar à sua vida
qualquer valor
mas agora é que via
como tudo se lhe escapava
em conversas banais
em tardes de rotina
com pessoas que apenas
procuravam matar o tempo
e eu sentado a ouvi-la
pois já há um bocado
tinha que ir à retrete
por causa deste bolo de queijo e natas
e não me atrevia
a interrompê-la
porque estava a gostar
do que ela dizia
e de como o dizia
até que ela me perguntou
como eram as coisas comigo
porque afinal eu escrevia poemas
e eu disse pois é
eu escrevo poemas
desculpei-me
e fui finalmente à retrete
meditar sobre
a minha vida e o seu valor

(Tradução de João Barrento)