Ana Paula Inácio
o que tens para dizer
senão a tua presença imperfeita,
o teu rosto de areia,
atravessaste Séneca a pé?
o que dizes está gravado
sobre a mesa tens copo, tens vinho.
o que poderás dizer
que não se dissolva em pó?
Atira antes pedras
margas, basalto, xisto.
senão a tua presença imperfeita,
o teu rosto de areia,
atravessaste Séneca a pé?
o que dizes está gravado
sobre a mesa tens copo, tens vinho.
o que poderás dizer
que não se dissolva em pó?
Atira antes pedras
margas, basalto, xisto.
8 Comments:
Então não há "coisinhos" a elogiar esta poeta, simultaneamente contida e intensa?
Acrobacias
sentados em Trafalgar Square
no intervalo de amigos
com o tempo entre as mãos
treinávamos o nosso inglês
num inquérito de revista
com Francis Bacon na capa
que perguntava:
qual dos membros
– superiores ou inferiores –
preferíamos perder
(esta ablação em língua estrangeira
tornava-se indolor, quase anestesiada)
respondeste: os braços
as pernas conservá-las-ias
como a liberdade de poder andar
respondi: as pernas
não queria ver-me
impedida de abraçar.
Assim juntando as nossas
perdas eu abraço-me a ti
e peço-te anda, mostra-me o mundo
e quando nos cansarmos
abraçar-me-ás, então, com as pernas
e eu
andarei com os braços.
ou
amanhã vou comprar umas calças vermelhas
porque não tenho rigorosamente nada a perder:
contei, um a um, todos os degraus
sei quantas voltas dei à chave,
sublinhei as frases importantes,
aparei os cedros,
fechei em código toda a escrita.
Amanhã comprarei calças vermelhas
fixarei o calendário agrícola
afiarei as facas
ensaiarei um número
abrirei o livro na mesma página
descobrirei alguma pista.
se fossem estes por mim tudo muito bem. :)
p.s coisinhos?!!ha so um;e este e mais nenhum!ora bolas!!
Marga xisto basalto? Magalhães, magalhães, magalhães. Estou farto
Estás farto? Emigra, anónimo, que a abertura das fronteiras está aí para alguma coisa. Boa viagem.
Essa teve piada, JMS. Muita piada mesmo. Anda bem que há blogues assim. RPM
Queria dizer "Ainda bem". RPM
Tenho pena é que a Ana não publique mais. RPM
Descobri Ana Paula Inácio, no livro de contos "Os invisíveis". E agora o poema, belíssimo.
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