terça-feira, julho 25, 2006

Defensores do indefensável

Os bombardeamentos israelitas no Líbano suscitaram a condenação formal de todos os países do mundo (excepto três), num coro de protestos que se estende do Vaticano ao Partido Comunista Português.
Mas há sempre meia dúzia de tontos e de lacaios (em geral bem colocados) dispostos a defender o indefensável. Uns porque são avençados de Israel; outros porque são novos e não querem saber, outros porque não gostam de árabes; outros porque nasceram com alma de cão polícia e apoiam sempre os senhores, ou seja, os mais fortes, ou seja, o Poder; outros, enfim, porque não têm defesas (intelectuais) contra a intoxicação da máquina de propaganda sionista.

Tem-se visto, assim, de tudo um pouco:
– O Blogueiro e o Editorialista de Referência dizendo que Israel tem que se defender porque está cercado de inimigos, esquecendo-se de pensar nas razões históricas dessa inimizade e no facto de Israel nunca ter dado um passo (muito pelo contrário) para procurar a conciliação com os tais inimigos.
- As Siamesas Lobotomizadas que cronicam no Público achando que Israel é uma democracia e os judeus um Povo Eleito, cujos direitos históricos sobre a Palestina estão consignados num livro chamado Bíblia (razão suficiente, no seu entender, para conferir ao Tsahal o direito e a obrigação de escravizar e matar as raças inferiores que infestam toda aquela região).
- Um outro blogueiro, que costuma aplicar a sua natural desinteligência num cómico show (off) em tudo digno da antiga revista à portuguesa, a acusar (com o despropósito que normalmente o caracteriza) de anti-semita quem nada censurou aos russos na Chechénia e quer agora protestar contra os desmandos sionistas. Como se não existissem, enfim, maneiras mais simples de não dizer nada.
- E vê-se até um lingrinhas moral a confessar, no DN, a sua preferência pelos escritores judeus, e que uma paixão assim tão potente lhe entrava a verbalização de qualquer crítica a Israel. É sempre bonito, reconfortante e enternecedor ver um jovem manifestar tão fogoso amor pela literatura. Mas conviria também não esquecer que nem só de literatura se fazem as artes; e se este golden boy da opinião fosse mais ecuménico no seu esteticismo, poderia talvez apreciar uma das artes de que fala um dos seus escritores judeus – a da fome; e nessa modalidade, hélas !, não lhe caberia senão reconhecer a superioridade dos palestinianos sobre os israelitas. Mas não. Infelizmente, o rapaz é só livros–livros, e tudo o que contribua para a grandeza das letras judaicas parece-lhe ser sumamente justo e bom. (De tal forma que ninguém duvida que ele seria o primeiro a vitoriar a ocupação hitleriana da Checoslováquia, já que as letras checas … pff.)

Os debitaites mentais destes promotores de si próprios revelam, mais do que ignorância ou cinismo (pois muitos deles vivem precisamente de desinformar), uma profunda falta de imaginação, que é a substância da piedade. Eles não conseguem (não querem) imaginar o que é viver sob um exército de ocupação, viver como um pária dentro da sua cidade transformada em gueto, estar sujeito às arbitrariedades infamantes de uma potência colonizadora; desconhecem o que é sofrer diariamente o medo de que o seu pouco seja transformado em nada, a humilhação de suplicar ao soldado inimigo autorização para atravessar a sua rua. Não querem saber, preferem errar confortavelmente.
Na Alemanha de Hitler seriam o vizinho que desvia a cara quando a família judia do 3º Dto. é levada (ou mesmo o vizinho que se aproxima para perguntar se “posso ficar com o vosso colchãozinho, já que não vão precisar…”, ou até os organizadores das sessões de Cinema Patriótico no Cineclube local). Mas claro que se uma voz lhes chamasse tal coisa em sonhos, acordariam escandalizados – pois se eles próprios costumam usar a palavra “racismo” (tal como “democracia”) como arma quando assaltam os bastiões ideológicos inimigos! Na verdade, todos os conceitos e sentimentos se transformam, nas suas bocas, em palavras (words, words, words), e as palavras num mero flato vocal.
E o racismo é neles uma distraída forma de viver, e o egoísmo mais serôdio comanda os seus passos; e foram instruídos pelo manual A Educação do Porco, de onde lhes adveio a ciência de abrir e fechar o coração de acordo com o gosto e a melhor conveniência; e sabem, enfim, ser felizes dentro dos seus fatos “cor de tubarão” (J. C. Oates).
Resta-nos desejar que as suas cozinhas Miele nunca sejam bombardeadas, que as suas bibliotecas de livros raros nunca cheguem a conhecer o poder das bombas incendiárias, que a sua pele de cera continue para sempre na ignorância dos efeitos de uma bomba de fósforo. “Que nunca tenham”, como diz o poeta, “o coração de cinza”.

21 Comments:

Blogger hmbf said...

Deixa lá JMS, dentro em breve colocarão a mão na consciência e defenderão a vida com unhas e dentes. Deixa só chegar a discussão sobre a despenalização da IVG.

terça-feira, julho 25, 2006 7:41:00 da tarde  
Blogger JMS said...

Nem me fales nisso. Uma consumição de cada vez.

terça-feira, julho 25, 2006 7:48:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olha pá, transforma-te em gaja, para te cortarem a crica com 10 anos e experimenta tirar a perna fora da burka ou tentar conduzir um carro na Arábia Saudita.
Para este peditório esquerdalhesco do "imperialismo sionista", já demos há muito.
Tu que és tão douto e informado, conheces o tamanho territorial de Israel? Já lá estiveste? Não sabes que o Líbano é um retalho de três poderes, comandados do exterior? Não sabes que Israel já entregou territótrios? E que é um povo superiotr, sim, enquanto os outros que tanto amas se dedicam a domesticar mulheres e a emprenhá-las de um "bendito mártir"? Eu não queria ser fundamentalista chateado, mas o teu discurso unívoco e cheio de fadinho, só merece isto.
Vai para lá, caralho! Converte-te ao Islão!És um bom poeta, mas como aderente a hipócritas e medievos regimes teológicos, baseados nos valores da vingança e do despotismo tribal, desiludes-me muito.

terça-feira, julho 25, 2006 8:04:00 da tarde  
Blogger JMS said...

O DR. Salazar também acreditava que os angolanos eram cultural e civilizacionalmente inferiores, e incapazes por isso de se governarem a si próprios. Isso legitimava a seus olhos o "esforço colonizador" português. Tratava-se de cristianizar os animistas.
Se tu não percebeste ainda que o que está aqui em causa é o direito internacional, e o direito à autodeterminação de um povo que há 50 anos se vê privado de tudo, se me vens com argumentos simplistas do género "vai para lá, se gostas" vejo-me obrigado a recomendar-te que leias um pouco de história. Em vez de poesia, ou lá o que lês.

terça-feira, julho 25, 2006 8:48:00 da tarde  
Blogger zazie said...

as irmãs siamesas estão o máximo. Mas esqueceste-te do arremedo de liberal que aluga avatares a 5 euros

":O)))

terça-feira, julho 25, 2006 9:56:00 da tarde  
Blogger zazie said...

um dia destes tenho de fazer um post a elogiar esse jovem. C'um caraças que há muito que faltava uma versão no masculino daquilo que todos sabemos que já existe no feminino...

terça-feira, julho 25, 2006 9:58:00 da tarde  
Blogger zazie said...

e nunca te esqueças que se deve dizer um "lingrinhas estrábico"

terça-feira, julho 25, 2006 10:00:00 da tarde  
Blogger PedromcdPereira said...

Os discursos ofensivos da integridade moral/ética/social ficam mal dos dois lados da barricada.

no terreno está à vista: Israel abandona Gaza e logo é ocupada por terroristas e utilizada para atacar o país. As cedências ,(ainda que poucas) são utilizadas para enaltecer a fraqueza do povo Israelita e enaltecer as qualidades dos tiranos respectivos. A violência deveria ser sempre desnecessária, mas se conseguimos empatizar com o palestiniano acossado pelo militar, devemos também compreender o receio de ter por vizinhos fanáticos cujo objectivo de vida é aniquilar o país em que se vive, e expurgar os seu habitantes do respectivo pedaço de terra. Não vale simplificar.

terça-feira, julho 25, 2006 10:01:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pois claro, não vale simplificar, mas o "fadinho dos palestinianos" é de uim simplismo atroz. No fim da 2.ªª Guerra Mundial, aquando da fundação do Estado de Israel, não existia lá mais que desertos, tâmaras, Mar Morto, rio Jordão e umas tribos nómadas. Estado Palestiniano, não havia.
Aliás o Salazar, não tem nada a ver com isto. E não respondeste a nada do que eu disse, nomeadamente às conhecidas questões cruentamente civilizacionais, que mencionei. E eu acho que isto, para além do cínico, bélico e petroleiro mercenarismo anglo-americano, é também uma questão civilizacional. Os que andam a dourar a pílula, a dizer que não, estão bem enganados. mercenarismo

terça-feira, julho 25, 2006 10:34:00 da tarde  
Blogger JMS said...

Anónimo

Na Palestina havia, em 1922, bem mais do que tâmaras e camelos. Segundo o censo efectuado pela Administração Britanica de então a Palestina tinha 752,048 habitantes, dos quais 589 177(78%)eram árabes; 83 790(11%) eram judeus; 71 464(10%) cristãos e 7617(1%) de outras confissões. Em 1945, graças a uma política de emigração massiva dos judeus para Israel, a desproporção no número das duas comunidades era um pouco menor: 1 061 270 (60%)árabes e os 553 600 (30%)judeus. Depois deu-se a guerra de 48 e cerca de 800 000 árabes fugiram ou foram expulsos, tendo as suas casas e terras sido ocupadas pelos judeus. O resto é história, assunto do qual manifestamente não sabes nada.
Não percebeste a referência ao Salazar, mas eu sou muito paciente e vou explicar-to outra vez: a superioridade cultural e civilizacional de um povo não pode servir para justificar a colonização e escravização de povos tidos por inferiores. Esse era o "alibi" moral do colonialismo europeu. Alguns povos árabes (repara que eu disse - alguns) têm costumes bárbaros e medievais, mas isso significa que devem ser escravizados, que se lhes deve negar a autonomia política?

quarta-feira, julho 26, 2006 12:31:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tenho muitas dúvidas em relação às questões do médio oriente, mas quem mais sofrerá no meio deste conflito (em ambas as partes) é quem o abomina, quem pouco lhe importa quem é o vizinho da porta ao lado, quem não ambiciona o poder, porque os restantes creio que não passam de fanáticos, lunáticos e merdosos. Cabrões que obrigam a juventude a alistar-se numa guerra continua, a deixar os vizinhos mulçumanos viverem em casas sem esgotos e com ratos; mas também cabrões que incitam crianças à violência e as ensinam a detonar cintos de explosivos...

Pessoalmente, detesto qualquer um dos lados... e isto de não sermos descendentes directos dos bonobos tem muito que se lhe diga...

Resta-nos a nós juntar forças para este país, que ali poucas sopas temos a migar. Não duvidem que, em ambos os lados daquela barricada, muitos elementos nos eliminariam a nós, se achassem necessário e tivessem a oportunidade de o fazer.

quarta-feira, julho 26, 2006 1:08:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

"Autonomia Política" é dialecto e idiolecto ocidental. O sistema de autoridade, alianças e governação da maioria desses povos, -repito, que são teocracias -, não aceita com facilidade a "democracia" e outros adquiridos políticos do Ocidente. Não faz parte dos seus valores, pois priviligiam outras formas de organização social, administração da autoridade e da justiça. Veja-se a desgraça das "eleições" no Iraque e o que acontece no Afaganistão. E quando os exércitos yankees saírem desses sítios, ninguém se fie que eles vão ser muito amiguinhos.
Aconselho-te a ler coisas sobre o Islão, e umas outras coisas de Antropologia. Falar do homúnculo Padre Salazar é de vómitos. Arranja outro paradigma da beatice malvada (talvez as tuas odaliscas e os seus sultões).

Mas, agradeço as informações populacionais, tão objectivas. E Estado Palestiniano, não estava lá,pois não?
E afianço-te que as tâmaras são excelentes.
A História conta-se conforme a ideologia conveniente e segundo os olhos do século. Ainda és um puto muito idealista. Deve ser por isso que eu gosto tanto da tua poesia.
Mas não vás lá para o "people" falar em i.v.g.! Ainda te metem na masmorra sem direito a advogado.

quarta-feira, julho 26, 2006 1:24:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

C'um caraças... Tenho a impressão que as "casas" dos árabes que os judeus herdaram eram umas tendas..que com certeza eles levaram com eles. Sim, porque não deviam estacionar os "bóssides" na garagem...

quarta-feira, julho 26, 2006 2:46:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

não entendo por que motivo tem necessidade de insultar e forma soez quem tem opinião diferente da sua...descanse, não lhe direi a minha.
Quem tem razão arguenta com lógica, não insultando quem não pensa como ele...
joana silva

quarta-feira, julho 26, 2006 4:33:00 da tarde  
Blogger cj said...

humm...opiniões há muitas.
atirem a moeda ao ar e escolham uma para defender.
garanto-vos que neste caso é igual.

quarta-feira, julho 26, 2006 10:08:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ó Dona Joana Silva,

Ninguém insultou ninguém de maneira "soez". Lá que o Suez não fica muito longe é verdade.
E que a sua ignorância sobre a temática em discussão ou sobre o vivo manejo da Língua Portuguesa -e a sua bem "farpada" ironia - está à vista, também é patente. Ironia muito presente na poesia do autor deste blogue. Não sabia?

quinta-feira, julho 27, 2006 1:08:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

AH! Afinal aquilo era ironia...
... 'Tá bem.

quinta-feira, julho 27, 2006 9:25:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

jms: podias tratar as pessoas a que te referes no post pelo nome.
Rui Costa

sábado, julho 29, 2006 3:20:00 da tarde  
Blogger JMS said...

Ando eu com o máximo cuidado pra manter as páginas deste blogue tão limpas quanto me é possível, e pedes-me tu para as infectar com nomes que os meus dedos se recusariam a teclar, mesmo que eu tivesse essa intenção? Não; era o que me faltava andar a publicitar cretinos. Eles já se publicitam ampla e generosamente.

sábado, julho 29, 2006 5:58:00 da tarde  
Blogger J. said...

obrigada por este post

sábado, julho 29, 2006 11:18:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

jms:certo!
Rui Costa

domingo, julho 30, 2006 10:22:00 da tarde  

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