sábado, setembro 30, 2006

Karl Kraus

Quando passa um carro, o cão, apesar de há muito saber que isso é inútil, protesta sempre, por príncipio. É puro idealismo; enquanto a intransigência do político liberal nunca ladra ao carro do Estado sem uma finalidade egoísta.

Os psiquiatras distinguem sempre os loucos pelo facto de estes manifestarem, depois de internados, um comportamento agitado.

Era uma vez uma máquina de escrever que tinha um escritor, mas não conseguiu suportar os custos de produção.

Toda a arte me parece ser apenas para o presente, se não for contra o presente.

Um poema só é bom enquanto não sabemos quem o escreveu.

Aquilo que viu a luz da imprensa num único dia dos últimos cinquenta anos teve mais poder contra a cultura do que as obras completas de Goethe em favor desta.

Preto no branco; assim se apresenta agora a mentira.

Não é a brutalidade, é a fraqueza que me assusta.

Tenho que procurar outra vez a companhia das pessoas. É que, neste Verão, por entre abelhas e dentes-de-leão, a minha misantropia degenerou terrivelmente.

Não, meus valentes, aos directores-gerais não tendes de fazer a saudação regulamentar. Muito embora tenham sido eles a conduzir-vos para a guerra.

A censura e o jornal - como não havia eu de decidir em favor daquela? A censura pode reprimir a verdade durante algum tempo, tirando-lhe a palavra. O jornal reprime a verdade durante muito tempo, dando-lhe palavras. A censura não prejudica nem a verdade nem a palavra; o jornal, ambas.


Fontes:
Histórias com Tempo e Lugar, Publicações Europa-América
O Apocalipse Estável, Apáginastantas
Traduções de António Sousa Ribeiro

1 Comments:

Blogger soledade said...

Em perfeita sintonia com o meu entendimento do mundo. Obrigada por dar a conhecer o livro. Farei uso das máximas para algo mais do que reflectir em costumeiro e solitário cinismo estóico.

quinta-feira, outubro 05, 2006 10:07:00 da manhã  

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