sábado, setembro 30, 2006

Karl Kraus

Quando passa um carro, o cão, apesar de há muito saber que isso é inútil, protesta sempre, por príncipio. É puro idealismo; enquanto a intransigência do político liberal nunca ladra ao carro do Estado sem uma finalidade egoísta.

Os psiquiatras distinguem sempre os loucos pelo facto de estes manifestarem, depois de internados, um comportamento agitado.

Era uma vez uma máquina de escrever que tinha um escritor, mas não conseguiu suportar os custos de produção.

Toda a arte me parece ser apenas para o presente, se não for contra o presente.

Um poema só é bom enquanto não sabemos quem o escreveu.

Aquilo que viu a luz da imprensa num único dia dos últimos cinquenta anos teve mais poder contra a cultura do que as obras completas de Goethe em favor desta.

Preto no branco; assim se apresenta agora a mentira.

Não é a brutalidade, é a fraqueza que me assusta.

Tenho que procurar outra vez a companhia das pessoas. É que, neste Verão, por entre abelhas e dentes-de-leão, a minha misantropia degenerou terrivelmente.

Não, meus valentes, aos directores-gerais não tendes de fazer a saudação regulamentar. Muito embora tenham sido eles a conduzir-vos para a guerra.

A censura e o jornal - como não havia eu de decidir em favor daquela? A censura pode reprimir a verdade durante algum tempo, tirando-lhe a palavra. O jornal reprime a verdade durante muito tempo, dando-lhe palavras. A censura não prejudica nem a verdade nem a palavra; o jornal, ambas.


Fontes:
Histórias com Tempo e Lugar, Publicações Europa-América
O Apocalipse Estável, Apáginastantas
Traduções de António Sousa Ribeiro

Quiringh van Brekelenkam
























"Um Poeta na sua Oficina", 1660-65

Grandes Aberturas # 41

O interesse por artistas da fome diminuiu muito nas últimas décadas. Se antigamente a organização por conta própria deste tipo de espectáculos trazia o seu lucro, hoje em dia isso seria absolutamente impossível. Os tempos eram outros. Na altura toda a cidade seguia o artista da fome; cada dia do seu jejum aumentava a afluência; todos queriam ver o artista da fome ao menos uma vez por dia; nos últimos dias inscreviam-se pessoas para poderem ficar sentadas o dia inteiro em frente à pequena jaula; até durante a noite, à luz de archotes que intensificavam o efeito, apareciam visitantes; em dias de sol trazia-se a jaula para o exterior para que o artista da fome fosse mostrado às crianças.


Franz Kafka - Um Artista da Fome, Tradução de José Maria Vieira Mendes.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Grandes Aberturas # 40

Acima de tudo, salta à vista a luminosidade. Luz por toda a parte. Claridade por toda a parte. Sol por toda a parte. Ainda ontem Londres outonal e chuvosa. O avião ensopado. Vento frio e escuridão. E aqui, desde manhã, todo o aeroporto banhado pelo sol, nós todos – ao sol.
Antigamente, quando os homens ainda percorriam o mundo a pé, ou a cavalo ou de barco à vela, a própria viagem preparava-os para a mudança. As paisagens desfilavam lentamente diante dos seus olhos, o cenário do mundo rodava devagar, muito devagar. A viagem du8rava semanas, meses. Os homens tinham tempo suficiente para se ir adaptando ao novo ambiente, à nova paisagem. Até o clima se alterava por etapas, gradualmente. Antes de chegar ao Equador escaldante, o viajante que partira da Europa fria tinha já deixado para trás o calor ameno de Las Palmas, o calor tolerável El-Mahary e o calor abrasador de cabo Verde.
Hoje, já nada resta dessas gradações. O avião arranca-nos ao gelo e à neve sem pré-aviso e lança-nos ainda no mesmo dia no abismo incandescente dos trópicos. Mal temos tempo de esfregar os olhos e já estamos em pleno inferno húmido. Começamos imediatamente a transpirar. Se chegarmos da Europa em pleno Inverno – tiramos o casaco e despimos a camisola. É este o primeiro gesto de um ritual de iniciação, quando um homem do Norte como nós chega a África.

Ryszard Kapuscinski - Ébano, Tradução de Maria Joana Guimarães

sábado, setembro 23, 2006

Diógenes, o Cínico

"Perguntaram-lhe um dia em que lugar da Grécia tinha visto homens bons, respondeu: Homens bons não vi em parte nenhuma, mas vi crianças na Lacedemónia.

Admirava-se dos escravos que vendo a voracidade dos seus amos, nada furtavam da comida.

Clamando numa ocasião: Homens, homens, acudiram vários, mas ele dispersou-os à paulada proferindo: Pedi homens, não excrementos!

Estando um dia a apanhar sol no Cranion, Alexandre acercou-se dele e disse-lhe: Pede-me o que quiseres. Respondeu-lhe: Não me faças sombra.

Dizendo-lhe também outro: Os Sinopenses condenaram-te ao desterro, respondeu: E eu condenei-os a lá ficarem.

Atribui-se-lhe por vezes o seguinte: Platão, que o viu lavar uma salada, aproximou-se e disse-lhe suavemente: Se tivesses sido amável com [o tirano] Dionísio, não lavarias salada. Diógenes respondeu-lhe no mesmo tom: E tu, se tivesses lavado salada, não terias sido escravo de Dionísio.
A um homem que se lhe dizia que toda a gente se ria dele, respondeu: E se calhar também os burros se riem dessa gente toda, mas nem eles prestam atenção aos burros, nem eu a eles. "


In, Diógenes, o Cínico, Farândola, 1990.
Tradução de Pedro Joffre

quarta-feira, setembro 20, 2006

Grandes Aberturas # 39

" C'est ici un livre de bonne foi , lecteur. Il t'avertit dès l'entrée que je ne m'y suis proposé aucune fin, que domestique et privée. Je n'y ai eu nulle considération de ton service, ni de ma gloire. Mes forces ne sont pas capables d'un tel dessein. Je l'ai voué à la commodité particulière de mes parents et amis : à ce que m'ayant perdu (ce qu'ils ont à faire bientôt) ils y puissent retrouver aucuns traits de mes conditions et humeurs, ce que par ce moyen ils nourrissent plus entière et plus vive la connaissance qu'ils ont eu de moi. Si c'eût été pour rechercher la faveur du monde, je me fusse mieux paré et me présenterais en une marche étudiée. Je veut qu'on m'y voie en ma façon simple, naturelle et ordinaire, sans contention et artifice : car c'est moi que je peins. Mes défauts s'y liront au vif, et ma forme naïve, autant que la révérence publique me l'a permis. Que si j'eusse été entre ces nations qu'on dit vivre encore sous la douce liberté des premières lois de nature, je t'assure que je m'y fusse très volontiers peint tout entier, et tout nu. Ainsi, lecteur, je suis moi-même la matière de mon livre : ce n'est pas raison que tu emploies ton loisir en un sujet si frivole et si vain : adieu donc. "

Michel de Montaigne - Essais

Ou, como diria o Lichtenberg,

"Hay gente capaz de creer en todo lo que quiere: son criaturas felices!"

Oh, não! Fomos abruptamente desarmados!

Diz aqui o guarda-portão que é preciso ser-se estúpido como um portão para não acreditar em milagres, acrescentando que cabe aos descrentes provarem que o milagre não existe. Talvez eu tenha abandonado demasiado cedo a Faculdade de Filosofia, mas estava capaz de jurar que é ao defensores do milagre que compete provar a sua autenticidade. Pedir à pessoa que não crê em milagres que refute a versão do presumível taumaturgo, ou então esteja calada com as suas dúvidas, não me parece muito sério nem muito inteligente.
Era como se qualquer mixordeiro nos quisesse convencer que conseguira fazer Chatêau Lapisse com a uva americana que tem no seu quintal e, perante a nossa incredulidade, rosnasse: “Não acreditas? Então diz-me lá tu como é que eu fiz este precioso bálsamo, seu estúpido!” Confrontados com tal argumento, que poderíamos nós fazer? Ora, poderíamos abandonar a toda a pressa a discussão; pois não há coisa mais inútil do que arguir com mixordeiros avezados à sofística.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Georg Christoph Lichtenberg, II

Si a un hombre juicioso se le puede dar un golpe y atontarlo, no veo por qué a un tonto no se le podría dar otro y volverlo inteligente.

Al que está enamorado de si mismo, su amor le ofrece al menos la ventaja de que no llegará a tener muchos rivales.

Marivaux a un mendigo sano: "No puede usted trabajar?" Y el mendigo: Ah! Mi querido señor! Si supiera lo perezoso que soy, seguro que se apiadaria de mí." Esta sinceridad le gustó tanto que le dio una limosna.

Hay muchísimos hombres más desdichados que tú. La frasecilla no te proporciona un techo bajo el qual vivir, de acuerdo, pero sí el suficiente para refugiarse cuando cae un aguacero.

Ningun invento le ha costado menos trabajo al hombre que el del Cielo.

Lo importante no es que el sol nunca se ponga en los domínios de un monarca - algo de lo que en otros tiempos se jactaba España -, sino lo que pueda ver a su paso por ellos.

Teoria de los pliegues en una almohada.

Se habla mucho de Ilustración y se desean más luces. Pero, de qué sirve tanta luz, Dios mio, si la gente no tiene ojos, o, si los tiene, los cierra intencionadamente?

Un patíbulo con un pararrayos.


Aforismos, Traducción de Juan del Solar.

Georg Christoph Lichtenberg

Se deberia investigar con más frequencia aquello que generalmente es olvidado por los hombres, aquello que no miran y suponen ya tan conocido que no lo consideran digno de investigación alguna

Un reloj que, al dar un cuarto, dijera siempre a su proprietario: tu..., al dar la media: tú eres...., los tres cuartos: tú eres un... y a dar la hora: tú eres un hombre.

Me han dicho que quando está escribiendo alguna recensión tiene siempre las erecciones más violentas.

Tres agudezas y una mentira hacen hoy en dia a un escritor.

El hombre era tan inteligente que casi no se le podia utilizar para nada en el mundo.

El animal que se ahoga en una lagrima.

Quien tenga dos pares de pantalones, que se venda uno y compre este libro.

Aquel libro produjo el efecto que habitualmente producen los buenos libros. Hizo más ingenuos a los ingenuos, más inteligentes a los inteligentes, y los otros, varios miles, permanecieron inmutables.

En realidade me fui a Inglaterra para aprender a escribir alemán.

Hasta los mortos viajan una vez al año alredor del Sol.

La gran regla: si lo poquito que dices no tiene en si nada extraño, dilo al menos un poquito extrañamente.

La superficie más entretenida de la Tierra es, para nosotros, la del rostro humano.

Miradas nuevas a trevés de los viejos agujeros.

Hay gente capaz de creer en todo lo que quiere: son criaturas felices!

Realmente hay mucha gente que lee sólo para no tener que pensar.

Era un chiquillo estupendo: con apenas seis años ya sabia rezar el Padrenuestro al revés.

Grandes Aberturas # 38

Gerard Maines lived across the hall from a woman named Benna, who four minutes into any conversation always managed to say the word penis. He was not a prude, but, nonetheless, it made him wince. He worked with children all day, taught a kind of aerobics to pre-schoolers, and the most extreme language he was likely to hear seemed to him to be in code, in acronyms, or maybe even in German - boo-boo, finky, peenick - words that were difficult to figure out even in context, and words, therefore, from wich he felt quite safe. He suspected it was not unlike people he knew who hated operas in translation. "Believe me," they would explain, "you just don't want to know what they're saying."
Today they were talking about families.
"Fathers and sons," she said, "they're like governments: always having sword fights with their penises."
"Really," said Gerad, sitting at her kitchen table, gulping at near-beer for breakfast. He palmed his beard like a man trying to decide.

Lorrie Moore - Anagrams

Grandes Aberturas # 37

Enterra-se uma mulher às duas horas, e às onze e meia o marido encontra-se na cozinha, em frente do espelho rachado, pendurado sobre o lavadoiro da louça. Não chorou muito. Se tem os olhos vermelhos é porque não dormiu quase nada. Veste uma camisa de goma e um vaporzinho leve lhe sai ainda das calças passadas a ferro há pouco. Enquanto a irmã mais nova lhe aperta o colarinho por trás e lhe faz subir o laço da gravata sob o queixo, com um gesto quase tão terno como uma carícia, o viúvo dobra-se para a pia da louça e perscruta ardentemente os seus olhos no espelho; em seguida passa a mão sobre as pálpebras como quem enxuga uma lágrima; mas as costas da mão continuam secas. A mão da irmã mais nova, a irmã bonita, demora-se uns segundos, imóvel, debaixo do queixo dele. O laço da gravata, branco como a neve, destaca-se-lhe na pele avermelhada. Ele acaricia-lhe furtivamente a mão. A irmã bonita é a que ele ama. Ama a beleza. A mulher era feia e doente, por isso a não chorou.

Stig Dagerman - O Vestido Vermelho, Tradução de Irene Lisboa

Grandes Aberturas # 36

Il y en a qui croient au destin. Il y en a qui ne croient en rien. Quelques-uns croient en tout. Quelques-un croient. Personne ne sait rien. Personne.

Un chien arrive, il est 7h30. Il trottine un moment autour de la terrasse, se faufile, plein de zèle, entre les tables. Il évoque irrésistiblement un garçon de café. Mais il a de la classe. Les chiens en ont souvent. Les hommes rarement.

Stig Dagerman - Notre Plage Nocturne, Traduit par C.G. Bjurström et Lucie Albertini

José Mário Silva

SÍSIFO, CINCO DA TARDE


Outra vez a cidade, outra vez dez toneladas
de lixo lá atrás, para descarregar junto
ao rio. O camião é um monstro lento a sair de
uma nuvem de pó. Sísifo está cansado, tem
os olhos a arder, os braços exaustos, as mãos
moldadas à forma do volante. Antes que o dia
acabe, há ainda muito entulho a transportar,
uma pilha a diminuir para que outra cresça.
Sísifo anda nesta vida desde que se lembra
e já conta os dias que faltam para a reforma.

domingo, setembro 17, 2006

Henri Michaux

AS MINHAS OCUPAÇÕES

Raramente consigo ver alguém sem lhe bater. Outros preferem
o monólogo interior. Eu não. Prefiro bater. Há pessoas que se sentam
à minha frente no restaurante e não dizem palavra, ficam aqui
um bocado, pois resolveram comer.
Cá está uma.
Agarro nela, zumba!
Volta a agarrá-la, zás!
Penduro-a no bangaleiro.
Despenduro-a.
Volto a pendurá-la.
Despenduro-a outra vez.
Ponho-a sobre a mesa, amasso-a e abafo-a.
Cago-lhe, mijo-lhe em cima.
Ela renasce.
Esfrego-a, estico-a (começo a enervar-me, tenho que
acabar com isto), amasso-a, aperto-a, reduzo-a e meto-a
no meu copo, atiro ostensivamente o conteúdo para o chão
e digo ao empregado: "Dê-me lá um copo mais limpo."
Mas sinto-me mal, pago rápido a conta e desando.

Tradução de Júlio Henriques

Grandes Aberturas # 35

Gilgamesh andou por terras estrangeiras, através do mundo, mas até regressar a Uruk não encontrou ninguém que pudesse resistir aos seus abraços. Porém os homens de Uruk murmuravam em suas casas:
"Gilgamesh toca o sino para se divertir, a sua arrogância não tem limites, nem de dia nem de noite. Nenhum filho é deixado com seu pai, porque Gilgamesh os tira a todos, mesmo às crianças. E, contudo, o rei deveria ser um pastor para o seu povo. O seu desejo não deixa uma só virgem para aquele que a ama - nem a filha do guerreiro, nem a mulher do nobre; contudo, é ele o pastor da cidade, sábio, gracioso e resoluto."

A Epopeia de Gilgamesh - Versão de Pedro Tamen

Grandes Aberturas # 34

Há muitas e muitas luas, um dólar eram 870 liras e eu era um homem de trinta e dois anos. Também o mundo era mais leve, dois biliões de almas mais leve, e o bar da stazione a que eu chegara nessa fria noite de Dezembro estava vazio. Fiquei ali parado, à espera da única pessoa que conhecia na cidade. Ela chegou bastante atrasada.

Joseph Brodsky - Marca de Água, Tradução de Ana Luísa Faria

William Shakespeare

Soneto LXVI


À morte peço a paz, já farto disto tudo,
farto de ver o mérito a mendigar o pão,
e ornar a inanidade o mais rico veludo,
e a mais ingénua fé rasgada na traição,
e o ouro de honrarias em despejados bustos,
e toda a virgindade à bruta rebentada,
e a justa perfeição nos tratos mais injustos,
e o valor contra a inépcia já não valer de nada,
e à força a autoridade na arte pôr mordaça,
e doutorais pedantes dar ao talento lei,
e a mais simples verdade por lorpa como passa,
e no cativo bem o mal ser sempre rei.
Já farto disto tudo, não mudo de caminho,
pra não deixar, morrendo, o meu amor sozinho.


Tradução de Vasco Graça Moura

quinta-feira, setembro 14, 2006

Floris van Dijck

















"A arte é uma corrida de obstáculos", 1610

Grandes Aberturas # 33

Hans had served his master seven years, and at last said to him, "Master, my time is up, I should like to go home and see my mother; so give me my wages." And the master said, "You have been a faithful and good servant, so your pay shall be handsome." Then he gave him a piece of silver that was as big as his head.

Irmãos Grimm - Fairy Tales, Translated byEdgar Taylor

Grandes Aberturas # 32

Long ago in 1945 all the nice people in England were poor, allowing for exceptions. The streets of the cities were lined with buildings in bad repair or in no repair at all, bomb-sites piled with stony rubble, houses like giant teeth in which decay had been drilled out, leaving only the cavity. Some bomb-ripped buildings looked like the ruins of ancient castles until, at a closer view, the wallpaper of various quite normal rooms would be visible, room above room., exposed, as on a stage, with one wall missing; sometimes a lavatory chain would dangle over nothing from a fourth or fifth floor ceiling; most of all the staircases survived, like a new art-form, leading up and up to unspecified destination that made unusual demands on the mind’s eye. All the nice people were poor; at least, that was a general axiom, the best of the rich being poor in spirit.


Muriel Spark - The Girls of Slender Means

segunda-feira, setembro 11, 2006

ALGUMAS PEQUENAS DÚVIDAS DE 11 DE SETEMBRO

0. Por quê duvidar da versão oficial? Ver aqui.

1. Como é que estruturas em aço, como as Torres 1 e 2 do World Trade Center podem ter desabado à velocidade de um corpo em queda livre, contra tudo o que os cientistas conhecem acerca da resistência e comportamento do aço sob o efeito de temperaturas como as registadas aquando dos incêndios no interior dos dois edifícios?
2. E a que se deveu a inusitada pressa por parte das autoridades americanas em autorizar o envio para a Ásia do aço retirado dos escombros, a fim de ser reciclado, ao mesmo tempo que vedava o trabalho das equipas de investigação no local?
3. Por que é que centenas de testemunhas (entre as quais os bombeiros que operavam no local) referem ter ouvido uma série de explosões no interior das torres nos momentos que antecederam o seu desabamento? (Explosões essas que, de resto, aparecem documentadas em todas as filmagens em vídeo feitas no momento).
4. Mais enigmático ainda: como é que um pequeno incêndio (no piso 11) da Torre 7 do WTC (onde, dado curioso, estavam situadas instalações da CIA e do departamento de investigação criminal do fisco norte-americano) pode ter originado o desabamento (em poucos segundos) de um edifício de aço com 47 andares, sabendo-se que nunca tal coisa aconteceu com edifício nenhum, em incêndios de muito maior duração e intensidade?
5. Por que é a Força Aérea Americana nada fez para interceptar, já não digo os aviões que chocaram com as Torres Gémeas (pois aí talvez a falha se possa explicar pelo factor-surpresa), mas o "Boeing" do Voo 77 que supostamente atingiu o Pentágono? Sabendo-se que essas instalações militares são, pela sua própria natureza e situação geográfica (a 10 milhas de uma base aérea) as mais bem protegidas dos Estados Unidos, e se o ataque às mesmas ocorreu 52 minutos após o ataque à primeira Torre e 35 minutos após a segunda?
6. Por que é que os vestígios do Voo 93 sugerem claramente que o avião foi abatido no ar, motivo pelo qual caiu a pique, tendo os seus destroços ficado disseminados por uma aérea de vários quilómetros em redor da cratera que o mesmo produziu ao atingir o solo? E como é que isso se concilia com a versão oficial, que nos diz que o mesmo caiu na sequência de uma luta travada no interior do cockpit entre os terroristas e alguns passageiros?

Estas são apenas algumas das dúvidas que milhões de americanos têm vindo a colocar em relação à versão oficial sobre os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001; e que apesar de escandalosamente ocultadas pelos meios de comunicação social, têm ecoado por milhares de sites na Internet.
Seja qual for a verdade sobre os estranhos acontecimentos do 11 de Setembro, algo que parece desde já absolutamente irrefutável é que as Torres não podiam ter caído como caíram sem que tivessem sido armadilhadas com o tipo de bombas que se utilizam em situações de demolição controlada, a não ser que admitamos que nesse dia as leis da física e da mecânica sofreram uma momentânea suspensão.

Uma pessoa passa os olhos pela blogosfera portuguesa e pasma: quase não há quem ponha em dúvida a versão oficial dos acontecimentos. Já nos Estados Unidos, por exemplo, as pessoas são bastante menos ingénuas, e quase 50 % dos nova-iorquinos acreditam que o governo americano esteve de algum modo envolvido nos ataques, o mesmo pensando 36% da totalidade dos americanos.
Nós por cá continuamos alegremente a acreditar no tranquilizante fairy tale oficial, contra todas as evidências e contra a opinião de respeitáveis membros da comunidade científica. Cinco anos depois do desastre, penso que seria bem altura de começar a procurar informação noutros canais que não a CNN ou o jornal Público.
Quem estiver mais interessado na verdade do que no tranquilizante absurdo veiculado pelos meios de propaganda oficiais, tem apenas que seguir as ligações deste texto e perder algumas horas a ler.
Ora essa, não têm nada que agradecer.

sábado, setembro 02, 2006

Grandes Aberturas # 31

Porquê escrever estas páginas? Para que servem? - Que sei eu? Na minha opiniáo, é estúpido perguntar-se aos homens o motivo das suas acçoes e dos seus escritos. - E vós, sabereis por acaso porque abristes as miseráveis páginas que a mão de um louco vai traçar?
Um louco! um louco aterroriza. O que é você, você, leitor? Em que categoria te incluis? na dos idiotas ou na dos loucos? - Se te dessem a escolher, a tua vaidade prefereria a última condição. Sim, mais uma vez, para que serve, pergunto-o de verdade, um livro que não é nem instrutivo, nem divertido, nem químico, nem filosófico, nem agrícola, nem elegíaco, um livro que não dá qualquer receita para os carneiros ou para as pulgas, que não fala dos caminhos-de-ferro, nem da Bolsa, nem dos recônditos do coração humano, nem dos trajes da Idade Média nem de Deus nem do Diabo, mas que fala de um louco, isto é, do mundo, esse grande idiota que gira há tantos séculos no espaço sem dar um passo, e que uiva, espuma e se dilacera?

Gustave Flaubert, Novembro - Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo

Charles Laughton















A Sombra do Caçador

Juan Bonilla

La patria es estar lejos de la patria:
una nostalgia de la infancia en noches
en que te sientes viejo, una nostalgia
que sube a tu garganta como el agrio
sabor del vino en las resacas duras.

La patria es un estado: pero de ánimo.
Un viejo invernadero de pasiones.
La patria es la familia: ese lugar
en el que dan paella los domingos.

Una patria es la lengua en la que sueñas.
Y el patio del colegio donde un día
bajo una lámina de cielo oscuro
decidiste escapar por vez primera.

Mi patria está en el cuerpo de Patricia:
mi himno es su gemido, mi bandera
su desnudez de doce de la noche
a ocho de la mañana. Tras la ducha
mi patria va al trabajo, yo me exilio.

Judith Leyster
























Casa comigo. Eu tenho uma vaca, tu dois porquinhos,
já viste o rendimento que não era? , 1631

Gustave Flaubert

Pour qu'une chose soit intéressant, il sufit de la regarder longtemps.

Tu me parles de travail, oui, travaille, aime l'art. De tous les mensonges c'est encore le moins menteur.

On me reproche de trop vivre seul, d'être égoiste, exclusif, de demeurer enfermé chez moi, dans moi, et toutes les fois que j'en sors c'est pour être heurté par quelque chose, blessé par n'importe qui.

Avec ma main brûlée j'ai le droit maintenant d'écrire des phrases sur la nature du feu.

Quand aucun encouragement ne vous vient des autres, quand le monde éxterieur vous dégoût, vous alanguit, vous corrompt, vous abruti, les gens honnêtes et délicats sont forcés de chercher en eux-mêmes quelque part un lieu plus propre pour y vivre.

Il faut couper court avec la queu lamartinienne, et faire de l'art impersonnel. Ou bien, quand on fait du lyrisme individuel, il faut qu'il soit étrange, desordonné, tellement intense enfin que cela devienne une création. Mais quant à dire faiblement ce que tout le mond sent faiblement, non.
Tu as fait dans ta vie une oeuvre de génie [...] parce que tu t'es oubliée, que tu t'es souciée des passions des autres et non des tiennes.

Correspondance, Choix e présentation de Bernard Masson

Jan van Goyen


















Estuary Scene, 1652-54

Grandes Aberturas # 30

"Estou a viver na Villa Borghese. Não há um grãozinho de pó em lado nenhum, nem uma cadeira fora do lugar. Estamos aqui sozinhos e estamos mortos.
A noite passada, Boris descobriu que tinha chatos. Tive de lhe rapar as axilas e nem assim a comichão parou. Como pode uma pessoa arranjar chatos num lugar tão bonito como este? Mas não interessa. Boris e eu talvez nunca nos tivéssemos conhecido tão intimamente se não fossem os piolhos."

Henry Miller, Trópico de Câncer, Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues

Grandes Aberturas # 29

Nada teme más el hombre que ser tocado por lo desconocido. Desea saber quién es el que le agarra; le quiere reconocer o, al menos, poder clasificar. De noche o a oscuras, el terror ante un contacto inesperado puede llegar a convertirse en pánico [....]
Todas las distancias que el hombre ha creado a su alredor han surgido de ese temor a ser tocado. Uno se encierra en casas a las que nadie debe entrar y solo dentro de ellas se siente medianamente seguro. El miedo al ladrón se configura no sólo como un temor a la rapina sino también como un temor a ser tocado por algún repentino e inesperado ataque procedente de las tinieblas. La mano, convertida en garra, vuelve a utilizarse siempre como símbolo de tal miedo. Mucho de ello a pasado a formar parte del doble sentido de la palabra "agarrar".

Elias Canetti - Masa y Poder, Traducción de Horst Vogel