terça-feira, fevereiro 27, 2007

Ingmar Bergman - "Morangos Silvestres"

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Teaser

«Tu não te interessas por nada. Não vais passar a vida inteira a ler, ou vais? O que é que tu queres afinal? As tuas notas não são grande coisa, mas não és estúpido. Tens de ter um objectivo na vida pelo qual tens de lutar, uma coisa a que te possas agarrar, e és tu que tens de procurá-lo e encontrá-lo, mais ninguém. Doutra maneira, a tua vida não vale nada, não passa de uma sucessão de dias que se arrastam, cinzentos e desenxabidos. Não haverá mesmo nada que te interesse? Desenhas tão bem, porque não te dedicas ao desenho?»
«Como o Tio Léon, Mamã? É ele o meu modelo?»
«O Léon fez umas aguarelas magníficas que hão-de ficar para a posteridade, encaixilhadas por aí nas casas das pessoas. A arte é isso.»
«E se todas as casas arderem, ficarem em ruínas?»
«Todas?»
«Sim. Onde vai parar a arte do Tio Léon?»
«Isso nunca acontecerá. Não pode ser. As pessoas também não são assim tão estúpidas. Lançar bombas, sim, mas com peso e medida.»

Hugo Claus - O Desgosto da Bélgica (Tradução de Ana Maria Carvalho)

domingo, fevereiro 25, 2007

Carlos Bessa

RESTOS DA EXPANSÃO MARÍTIMA



As pequenas mentiras da falta de trocos
ou a roubalheira por entre ademanes
de perdulário: costumes de quem cedo
recebeu o corso em gestos e palavras.

Seduzem-me na pena que têm de si,
na alegria com que se elegem para centros
radiantes. Como os entendo e gosto
de ter à mesa. E não é por, às vezes,

num acaso de consciência, me rir
do logro ou do jogo aberto com que
iludem o medo, num carnaval todo
ele de catálogo. Chegam e dizem

eu, como se fosse um sol, e logo se
abre a estante da efabulação,
a que segue o índice de espécimes
a abater. Falam depois dos sucessos,

dos inimigos, dos que não os reconhecem.
Abrem portões e varandas onde escancaram
o que lhes falta, sem que por uma vez ouçam,
pois isso, isso seria uma capitulação.


in Dezanove Maneiras de Fazer a Mesma Pergunta, Teatro de Vila Real, 2007.

sábado, fevereiro 24, 2007

Monteverdi - L'Orfeo - Jordi Savall

24 de Fevereiro de 1607
24 de Fevereiro de 2007

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Acensão e Queda de Eugénio Robertson


Pedro Costa - "Juventude em Marcha"

"Nha cretcheu, meu amor
O nosso encontro torna a nossa vida mais bonita, pelo menos há mais de trinta anos.
Pela minha parte, torno-me mais novo e volto cheio de força.
Eu gostava de te oferecer cem mil cigarros,
uma dúzia de vestidos daqueles mais modernos,
um automóvel,
uma casinha de lava que tu tanto querias,
um ramalhete de flores de quatro tostões.
Mas antes de todas as coisas
Bebe uma garrafa de vinho do bom,
Pensa em mim.
Aqui o trabalho nunca pára.
Agora somos mais de cem.
No outro ontem, no meu aniversário
Foi altura de um longo pensamento para ti.
A carta que te levaram chegou bem.
Não tive resposta tua.
Fico à espera.
Todos os dias, todos os minutos,
Todos os dias aprendo umas palavras novas e bonitas, só para nós dois.
Mesmo assim à nossa medida, como um pijama de seda fina que tu não queres.
Só posso te chegar uma carta por mês.
Ainda sempre nada da tua mão.
Fica para a próxima.
Às vezes tenho medo de construir esta parede
Eu, com picareta e cimento
E tu, com o teu silêncio
Uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento.
Até dói cá dentro ver estas coisas más que não queria ver
O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como as ervas secas.
Às vezes perco a força e juro que vou esquecer de mim."

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

SIM

"Quem não me deu amor, não me deu nada."
Ruy Cinatti


Mãe, ou pai, é quem cria com amor. Fora disso, não existe senão o automatismo biológico da procriação. Como sabiam os filósofos antigos, não é a vida o que importa, mas sim a dignidade com que a mesma é vivida. Uma criança não desejada é uma criança condenada ao pior dos infortúnios: o desamor. É uma criança, portanto, condenada à indignidade. A menos que tenha a sorte “de ser adoptada e blá-blá com amor etc.” A sorte. Mas a dignidade da vida humana não devia ser uma questão de sorte. Devia ser – adivinharam – um direito. E muito mais importante (ou “sagrado”, se quiserem) do que o propalado direito a nascer.
A este respeito, os arcaizantes defensores do Não ao aborto limitam-se a reproduzir chavões de origem religiosa (que muitos confundem com “ética”); pois aquilo a que eles chamam o direito à vida traduz-se, de facto, no mero direito à sobrevivência física, ou seja, à indignidade. (Eu também acho que o mais importante é estar vivo – a minha anedota preferida até é aquela do “Mexeu-se! Mexeu-se!” que por certo conhecem –, mas isso é depois de se ter nascido. Antes, que diferença faz?) E dizem-se então chocados, os do Não, com a ideia de interromper um nascimento; mas não os choca a indigência material, intelectual e moral em que vivem as crianças pobres e não desejadas. (Uma indigência para a qual muitos deles, grandes cínicos, contribuem activamente: legislando, remunerando, despedindo, etc.) É assim, a infelicidade dos outros não os choca, o que os choca é a opinião contrária: a opinião soprada contra as velinhas que os alumiam. Incomoda-os a liberdade dos outros. Assusta-os.

Porque o direito a dispor do seu corpo é, queira-se ou não, uma afirmação de liberdade. Filosoficamente, a coisa põe-se nestes termos: por um lado o direito a nascer, por outro o direito à liberdade sobre o seu corpo. O direito a nascer só se pode “justificar” em termos religiosos; enquanto que a liberdade é um conceito filosófico e político. A natureza é uma armadilha de que não se escapa, sabemos isso, pelo que a liberdade sobre o corpo é sempre condicional. Mas se a natureza, graças à Medicina (invenção, recorde-se, do século XVIII), já não vence todas as batalhas (só a última, a decisiva, ai ai!), se já nos é possível “negociar” com a carcereira natureza, porque haveriam as mulheres de continuar escravas do determinismo biológico? Em rigor, quem aceita combater a natureza com a ajuda da contracepção e da medicina não tem argumentos para proibir o aborto. O que está em jogo, em qualquer tipo de manipulação médica, é sempre a afirmação do homem contra os “abusos” da natureza. A natureza “quer” que as mulheres tenham um filho por ano entre os 13 e os 53, ou assim. Não pode ser, não nos dá jeito nenhum a proliferação caótica. A natureza “quer” que os homens morram de uma apendicite. Não nos dá jeito, também. E por aí fora.
Assim, mais do que o batimento cardíaco, que o bipedismo, mais do que a razão, mais até do que o uso do telemóvel, é o exercício da liberdade que define o homem; e a liberdade é o que caracteriza a vida que é digna de ser vivida. De resto, os médicos sabem disso quando desligam a máquina que mantém artificialmente vivo um doente, ou quando provocam o aborto de um feto mal-formado, ou quando ajudam um doente a suicidar-se. Em todos estes exemplos, aquele ser humano já não pode (ou nunca poderia) ter uma vida digna, uma vida livre: a pessoa em coma está na dependência da sua máquina, tal como o feto mal-formado está condenado à tornar-se num ser totalmente dependente, e o doente terminal está na dependência da natureza e do minuto em que esta decida que o sofrimento dele é já bastante. Razão pela qual, nestes casos, a liberdade e a dignidade do homem são levadas em conta e influem na decisão de interromper a vida. E quem achar que isto é moral e filosoficamente aceitável, não pode condenar a mulher que aborta.
(Curiosamente, a aborto eugénico é candidamente aceite pela maioria dos que fazem campanha pelo Não. O que mais do que uma contradição é um absurdo. De acordo com o meu padrão de valores, o aborto eugénico é bem mais condenável do que o aborto que impede o nascimento de mais uma criança não desejada, pois uma criança deficiente não é necessariamente infeliz, enquanto que uma criança desamada tem tudo para o ser.)
Eu seria capaz de compreender a filosofia (mas não de aceitar a prática proibitória) dos anti-abortistas se eles defendessem, coerentemente, a interdição absoluta de interromper a vida. O pacifismo absoluto dos jainistas parece-me respeitável, mesmo que não partilhe as suas concepções religiosas ou metafísicas. Mas não é o pacifismo que move a maioria dos anti-abortistas, pois muitos deles não sentem qualquer embaraço em aplaudir vigorosamente uma guerra ofensiva ou de ocupação, ou a pena de morte. É nestes “vitalistas selectivos” que o mecanismo da estupidez humana assume contornos irracionais, quase atávicos. Alguns deles chegam a defender a obrigatoriedade de as mulheres levaram a gravidez até ao fim porque uma criança representa mais um “trabalhador”, como dizia há dias uma gaja do PP, preocupada não sei se com a extinção da raça tuga se da mão-de-obra para a sua indústria. Incrível! Mas, enfim, deixá-los.

Gostaria de me alargar um pouco mais sobre este assunto, inesgotável e apaixonante, mas são 2,50, estou certo que já perceberam o meu nada original ponto de vista (apesar do esquematismo, do desalinhavo com que vai para o ar) e por aqui me fico então. Obrigado.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Ute Lemper - I' m a stranger here myself

terça-feira, fevereiro 06, 2007

"The World is our backyard, get it?"

Estados Unidos aprovam criação de comando militar em África
Reuters

"O Presidente dos Estados Unidos aprovou um plano do Pentágono para a criação de um novo comando militar para operações em África, com vista a coordenar a acção e combater potenciais ameaças no continente, anunciou hoje o secretário da Defesa, Robert Gates."

Público, 6-2-07

A Anedota do Dia

"Sexo pode causar danos emocionais em adolescentes

Os adolescentes podem sofrer consequências emocionais negativas como resultado de relações sexuais, mesmo quando não existe penetração, concluiu um estudo que inquiriu 618 adolescentes americanos e foi publicado ontem na revista científica Pediatrics.Investigadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco, chegaram à conclusão de que quase metade dos adolescentes com vida sexual activa inquiridos se sentiram alguma vez "usados", culpados ou arrependidos depois de terem tido relações sexuais. Estes sentimentos negativos verificavam-se mesmo quando os adolescentes tinham "apenas" sexo oral, reportam os autores do artigo, Sonya Brady e Bonnie Halpern-Felsher.O estudo sublinha que os pais devem falar com os filhos sobre os efeitos potencialmente negativos de terem actividade sexual, mesmo quando não há penetração. "É importante que os pais ajudem os adolescentes a compreender que ter sexo oral pode ter consequências de saúde a nível social, emocional e físico, podendo acontecer o mesmo com sexo vaginal."

Público, 6-2-07

Quando eu era adolescente, o sexo traumatizava imenso quem não o praticava. A virgindade era quase infamante, e quem aos dezasseis permanecia ainda nesse lamentoso estado, mais depressa confessaria uma falsa incontinência urinária do que a castidade.
A curiosa esquizofrenia da sociedade americana, onde o paganismo e o hedonismo convivem com arcaísmos como o sentimento de culpa em relação ao sexo, só podia redundar nestes cómicos “sentimentos negativos” pós-coitais.
Os vitorianos ayatolas evangélicos gostariam de inculcar nos jovens a ideia de que agiriam mais recta e santamente se expendessem as suas energias nos centros comerciais ou a circular de tanque pelas ruas de Bagdad. O corpo, pretendem eles, foi feito para trabalhar, para comer hambúrgueres e para matar inimigos. É que a submissão laboral, a obesidade e o assassínio, ao contrário do sexo, não acarretam nenhum tipo de distúrbio emocional. São até experiências intrinsecamente produtivas e enriquecedoras. Já o sexo, é mero dispêndio, um potlatch de energias, um investimento (dizem) emocionalmente ruinoso. Ai ai!

Grandes Manchetes de Amanhã # 8 (2009)

MEL GIBSON FILMA CULTURA DA BATATA


"Falado integralmente em batatês e filmado em luxuriantes batatais da Irlanda e da Polónia, Potato Mind, o novo filme de Mel Gibson, estreou ontem no Festival de Cannes. "

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Recordações da China


Que não é bem assim, disse o Amado Ministro, que são muito bons, muito suaves e docinhos, os direitos humanos na China, embora ele prefira com avelãs. E quem não prefere?

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Tom Verlaine - Five Miles Of You

BAUHAUS - Spirit

VIRGIN PRUNES - Decline and Fall

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Grandes Aberturas # 42

"O Eusébio marca livres de trinta metros, o Artur Jorge chuta em moinho, o Dinis faz fintas à bandeirola de canto, MAS EU FUI O MAIOR CRAQUE DA RUA GUERRA JUNQUEIRO E ESTÁ PARA NASCER UM SUCESSOR DIGNO DESSE TÍTULO."

Fernando Assis Pacheco - Memórias de um Craque